O e-mail brasileiro foi criado contra espionagem dos EUA
Expresso V3, desenvolvido pela Serpro, atrai também outros três países
Apresentado como solução para livrar o governo brasileiro da
espionagem, o novo sistema de e-mails e de comunicação brasileiro
Expresso V3 será implantado pelo governo do Uruguai e desperta a atenção
dos governos de Argentina, Bolívia e Venezuela.
Um acordo de cooperação firmado entre Brasil e Uruguai prevê a
instalação do Expresso V3 na Antel (a empresa estatal de
telecomunicações do Uruguai), afirmou ao G1 o coordenador de ações
governamentais do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro),
Marcos Mello, gestor do sistema.
A Serpro, autarquia que desenvolve os sistemas críticos da esfera
federal como os da Receita Federal, desenvolveu a tecnologia em resposta
às revelações de que as comunicações da presidente Dilma Rousseff, de
assessores próximos e da Petrobras foram espionadas pelos serviços de
segurança nacional dos Estados Unidos, e o Ministério das Minas e
Energia teve suas mensagens interceptadas pelo Canadá.
Elaborado a pedido da presidente, o sistema cria uma rede interna pelas
quais passarão as trocas de e-mails, as videoconferências e até os
acessos à internet realizados pelos funcionários do governo federal. O
objetivo é barrar o acesso de espiões às mensagens trocadas dentro do
governo brasileiro.
Com o software, os dados circularão por fibras óticas de empresas
públicas, como a Telebras, e não usarão redes estrangeiras. Para
estender essa segurança a mensagens enviadas para fora do sistema
Expresso V3, os e-mails mandados para outros serviços de correio
eletrônico serão criptografados.
Ferramenta de comunicação
Segundo Mello, no caso do Uruguai, não só a preocupação com a segurança
motiva a adoção. "Tanto o Uruguai quanto o Brasil tem necessidade de
uma ferramenta de comunicação. A parceria não surgiu somente pela
segurança, mas pela necessidade [do Uruguai] de deter uma ferramenta de
comunicação segura", diz Mello.
Ele não revelou quanto o Uruguai pagará pelo serviço.
"Suas funcionalidades se ajustam muito bem aos requerimentos da Antel
para executar os serviços de correio", informou a empresa uruguaia ao
G1, em entrevista por e-mail. A estatal acrescenta aos motivos que a
fizeram recorrer ao Expresso V3 o fato de a plataforma ser livre. Com
código aberto, o software pode ser modificado por qualquer um,
diferentemente do que ocorre em softwares de propriedade por empresas
privadas como, por exemplo, o Windows, que tem código fechado.
A empresa afirma ainda que as características do software "estão
alinhadas com a estratégia do país de potencializar sua capacidade de
inovar, promover pesquisa científica e tecnológica e a inclusão
digital".
Após a instalação na Antel, o governo do Uruguai, acionista majoritário
da estatal, decidirá se expandirá o uso do sistema para outras áreas. A
primeira etapa de implantação no país começará em 10 de março, quando
técnicos do Serpro irão ao país auxiliar os funcionários da empresa a
operar o novo sistema.
"Eles instalarão o ambiente e mostrarão as soluções [do Expresso V3]
para identificarem as necessidades do Uruguai”, explica Mello. Segundo a
Antel, o Expresso V3 funcionará no Centro de Treinamento e
Desenvolvimento, onde poderá ser visto também por empresas privadas e
públicas do país.
O acordo que está sendo acertado entre Serpro e Antel prevê a
instalação do software, além de suporte ao sistema. Nas negociações para
ampliação da utilização, ainda em andamento, o Serpro sugeriu que o
período de suporte variasse entre um e dois anos.
Sistema em outros países
Argentina, Bolívia e Venezuela já negociam com o Serpro a implantação
do Expresso V3, diz o coordenador de ações governamentais do Serpro. O
V3 é a atualização de uma tecnologia similar, o Expresso V2, que não
tinha técnicas tão aprofundadas de segurança e não era utilizado por
todos os órgãos do governo federal. Chegava a apenas 20% deles.
Já com o Expresso V3, a ordem presidencial é expandi-lo a toda esfera
federal. Em novembro de 2013, o sistema começou a ser implantado na
Presidência da República. Segundo Mello, quase metade dos servidores
alocados na presidência, cerca de 2,2 mil, já tiveram seus perfis
migrados para o novo sistema e, até o fim de março, tudo estará coberto
pela ferramenta. Será nesse último mês que o perfil da presidente, junto
com o restante de seu gabinete, será migrado. De acordo com o Serpro, a
presidente Dilma utiliza o Outlook, programa de e-mail da
norte-americana Microsoft.
Mello explica que o processo tem de ser feito em blocos, para que todos
os servidores públicos de uma determinada repartição tenham acesso ao
sistema ao mesmo tempo. A migração envolve levar do sistema de
comunicação antigo para o novo todos os contatos, a agenda, e outras
informações do ambiente de informática usado pelo funcionário.
Já em curso, a migração dentro do Ministério do Planejamento começou no
início de fevereiro e terminará em 17 de março. A próxima pasta da
lista será a Fazenda.
Os órgãos e ministérios que já acionaram o Serpro para ter o Expresso
V3 foram o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)
e as pastas das Cidades e das Minas e Energia. "Na verdade, a gente tem
um 'backlog' [acúmulo pendente] grande [de solicitações]", comenta
Mello sobre a longa fila de áreas governamentais à espera do novo
sistema.
Fonte: G1
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