Guilherme Fiúza, ÉPOCA
Há uma grita
injustificada no caso das provas semianalfabetas do Enem. Não dá para
entender tanta indignação. Há anos o governo popular vem preparando o
Brasil para a grande revolução educacional, pela qual a norma culta se
norteará pelo português falado nas assembleias do PT.
Como se
sabe, depois de uma blitz progressista da presidente Dilma Rousseff e do
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, livros didáticos passaram a
ensinar que é certo escrever "nós pega o peixe", entre outras
formulações revolucionárias. Alguns especialistas teriam argumentado que
o certo seria "nós rouba o peixe", mas isso já é discussão interna
deles.
Numa das redações que levaram nota máxima no Enem, o
candidato escreveu "enchergar" - com "ch" em vez de "x". Não há reparo a
fazer, está perfeito o critério. Depois de três anos deixando o Enem à
mercê dos picaretas, pois estava muito ocupado com sua agenda
eleitoreira, Haddad elegeu-se prefeito.
Foto: Rodrigo Clemente /O Tempo / AE
Um
fenômeno desses jamais aconteceria num país que enxerga - só num país
que "encherga". Está corretíssima, portanto, a observação por parte do
estudante da nova norma culta.
Os que veem algum erro nisso não
sabem acompanhar as velozes mudanças da língua, comandadas pela nova
elite. O relato de Dilma Rousseff sobre seu encontro com o papa
Francisco também mereceria nota máxima no Enem. Contou a presidente:
"Ele estava me "dizeno" que espera uma presença grande dos jovens (na
Jornada da Juventude), na medida em que ele é o primeiro papa, ele é
várias coisas primeiro". Os corretores progressistas do Enem só dariam
nota 1.000 a uma construção dessas porque não existe 1.001.
O novo
recorde de aprovação que acaba de ser batido pelo governo e pela
"presidenta" só comporta duas explicações possíveis: ou o Brasil está
"enchergando" bem, ou o Brasil está "enchergano" bem. Qualquer das duas
hipóteses, porém, garante imunidade total à "presidenta" (que também é
várias coisas primeira). Ela pode passear de helicóptero sobre as
enchentes de Petrópolis e depois pousar, como uma enviada do Vaticano,
para rezar pelas vítimas.
Os desabrigados de dois anos atrás na
mesma região continuam sem as casas prometidas pelo governo popular. Há
famílias morando em estábulos. Alguns quilômetros serra abaixo, casas
oferecidas pelo governo popular para removidos de áreas de risco foram
inundadas pelas últimas chuvas. Moradias do programa Minha Casa Minha
Vida oferecem como bônus minhas goteiras, minhas rachaduras na parede.
O
povo deve estar "enchergano" tudo isso, porque acolhe o helicóptero de
Dilma como um disco voador em missão turística e reza com ela na igreja
local, pedindo proteção a não se sabe quem.
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