02 julho 2016

NO ESCURINHO DO JABURU

O encontro do último domingo à noite entre Temer e Cunha remete a um episódio entre Figueiredo e Ulysses. Ambos se odiavam, mas Figueiredo, não se sabe a razão, tentou marcar um encontro sigiloso com Ulysses, também em um domingo à noite. A velha raposa do PMDB sentiu um cheiro ruim no ar e botou a boca no trombone: “O presidente Figueiredo pediu para se encontrar comigo às escondidas, à noite, de madrugada. Nicodemus é que queria se encontrar com Cristo só no escuro. Eu não sou Nicodemus, e o general, muito menos, tem vocação para Cristo”.
O encontro de domingo só não continuou secreto porque a repórter Andréia Sadi, para quem Gilberto Gil costuma cantarolar “Eta menina danada, meu Deus!”, descobriu o fato antes mesmo de ele acontecer e, uma vez consumado, tornou-o público. Cunha negou, mas Temer, acuado pelas evidências expostas por Sadi, foi obrigado a confirmá-lo.
Maria Chiquinha
Não foi para ver as emas do quintal do Palácio que Cunha foi ao Jaburu no domingo à noite. Tampouco para comer jamelão, que não dá no mês de junho, pelo menos em Brasília.
Ele foi lá no mato tentar emplacar um candidato para sua própria sucessão, em troca da preservação do mandato.
Mas encontrou um presidente refém do tabuleiro político do Congresso.
Neste momento, se mexer numa pedra desse tabuleiro, Temer corre o risco de não conseguir manter nem o seu próprio mandato.
Tsunami
As prisões de Lúcio Funaro e de Ricardo Magro, e a busca de documentos na casa de Milton Lyra em Brasília, devem aumentar o clima de tensão no Congresso. Eles são suspeitos de operar em larga escala para expressivo número de parlamentares.

Sem controle
E o frio na espinha que políticos de diferentes partidos sentiram diante da prisão de Adir Assad, na Operação Saqueador, não é inédito. Foi experimentado pelos mesmos personagens (de peemedebistas a expoentes da ex e da atual oposição) quando a CPI do Cachoeira chegou ao nome do empresário, em 2011. Na ocasião, aquela foi a senha para abafar as investigações. O problema é que agora o assunto não está nas mãos do Congresso.
Fera de plantão
Temer ia de fato assinar agora a Medida Provisória que resolveria o imbróglio da EBC.
Mas resolveu segurar para depois do recesso parlamentar e judiciário. Motivo: o plantão do Judiciário estará nas mãos de um só ministro.
O presidente da Casa, ministro Ricardo Lewandowski.
Muita ousadia
Belo é o currículo do indicado de Renan para substituir Henrique Alves, que caiu por causa de denúncias de corrupção.
Trata-se do deputado Marx Beltrão, réu no STF por falsidade ideológica.
O pai também tem pendências na Justiça.
Abafa o caso
Falar em Renan, Jucá anda furioso com ele. É que o presidente do Senado colocou na pauta, ainda para este mês, o projeto sobre abuso de autoridade. Jucá é contra mexer agora no projeto.
Deu chabu
Subiu no telhado a articulação para que o STF reveja a decisão de que condenados devem começar a cumprir pena a partir da 2ª instância.
Entre os entusiastas da revisão estão Lewandowski e advogados estrelados da Lava-Jato.
Bomba! Bomba!
Renomado advogado, considerado um dos melhores do país, soube que estava na mira das investigações.
Não pensou duas vezes: procurou investigadores para oferecer tudo que sabe sobre o Judiciário — e relatou detalhes das relações nada republicanas com integrantes do Superior Tribunal de Justiça e também do Supremo Tribunal Federal.
Detalhe: entregou nome de ministros.
Quem teve acesso às negociações diz que não vai sobrar pedra sobre pedra quando a delação for fechada.
Insuperável
Nem a delação da Odebrecht, considerada a mais importante de todas até aqui, deverá superar a desse nobre causídico.

Coluna do Moreno

por Jorge Bastos Moreno

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