Instalação em Davos simula campo de refugiados para alertar sobre Síria
De repente, uma forte explosão. O lugar se esfumaçou. Ouviram-se gritos
histéricos de homens e mulheres. Depois, berros de soldados. A
escritora Merel Bakker, mulher de um alto executivo, presidente do
Conselho Mundial Empresarial para Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na
sigla em inglês), se encolheu no chão com sua elegante calça comprida
de lã cinza, cabelos louros impecáveis e unhas feitas. Antes de chegar
ao campo, Merel foi obrigada a entregar seus anéis de ouro.
Uma mulher era carregada ferida. De repente, soldados surgiram
ameaçando a todos com seus rifles: "saia da minha frente, agora! No
chão, e não quero ouvir sua voz!"
Estamos num campo de refugiados na Síria, em plena guerra. Mas a
“guerra”, na realidade, aconteceu na rica estação de esqui de Davos, na
Suíça, no porão de uma escola de Ensino Médio. No dia em que os
principais atores do conflito da Síria se reuniram em Montreux para
discutir o fim da guerra, ativistas promoveram para executivos reunidos
em Davos uma simulação do horror nos campos de refugiados - tudo como
parte do programa oficial do Fórum Econômico Mundial.
Para fazer os participantes sentirem o drama da guerra e dos
refugiados, o australiano David Begbie, ativista da Crossroads
Foundation e da Global Hand, não mediu esforços: importou 700 quilos de
material de guerra, como armas falsas, arame farpado, tendas e até
lixo.
Mulheres foram “selecionadas” para serem “estupradas”, homens eram
“torturados”, e a corrupção correu solta na simulação. Os olhos azuis de
Merel Bakker se encheram de lágrimas quando ela contou o que sentiu.
"Foi aterrorizante. Nunca havia vivido uma violência como esta antes" disse ela ao GLOBO.
Begbie ouviu, um a um, a reação dos participantes e disse: "meus
amigos, vocês passaram por isso durante apenas 20 minutos. Mas esta é a
realidade! Felizmente, nenhum de vocês pisou numa mina explosiva de
verdade."
Rafael, que simulou um soldado malvado, acrescentou drama ao contar que
era, na vida real, um refugiado da República Democrática do Congo:
"soldados tiravam nosso dinheiro, comida... Esta é a vida nos campos."
Imtiaz Pater, executivo-chefe da Multichoice, uma empresa da África do
Sul, foi jogado contra a parede na simulação. Ele jogou o jogo. E depois
revelou sua simpatia aos refugiados. Sua família foi perseguida no
apartheid. Ontem, em Davos, ele reviveu o temor do passado racista da
África do Sul.
de O Globo
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