Esta foi a minha sétima maratona (Curitiba), a mais dura por causa do difícil percurso, concluí-la foi uma grande alegria. |
Ziel Machado
Tenho ouvido com certa frequência a seguinte pergunta, por que você corre? Aqui vai minha resposta.
A vida nos obriga
a fazer escolhas. Uma jornada de intensa alegria e autogratificação,
pode nos conduzir a finais trágicos. Escolhas que parecem acertadas e
que produzem o prazer imediato, podem esconder um processo lento e
corrosivo de autodestruição. Outras vezes, um caminho que nos conduz em
direção a dor, ao limite, a sensação e expressão de extrema fragilidade,
pode nos levar a um final glorioso. É certo que terminar uma maratona é
uma glória passageira, fugaz, mas, ainda assim, cheia de significado.
O caminho que nos
faz superar os 42,195 Km de uma maratona é longo, com uma ampla
variedade de desafios. Ele nasce no silêncio de um desejo secreto, que
teme se tornar palavra, um compromisso público. No meu caso nasceu da
necessidade de superar um estilo de vida sedentário, que estava
colocando minha saúde em sério risco, e levou-me a pedir ajuda, a
reconhecer que algo deveria ser feito e que, sozinho, não seria capaz
realizar. Assim, junto com um processo de reeducação alimentar, cheguei
até um grupo de corrida. Eu perguntava, será que a esta altura da vida
ainda sou capaz de aprender? Será que sou capaz de lutar contra hábitos
tão profundos na minha forma de me alimentar, descansar (ou não
descansar)? Será que ainda sou capaz de encontrar um estilo de vida que
saiba discernir as prioridades em meio as minhas muitas urgências? Como
encontrar tempo em meio a tantas coisas importantes que estou envolvido?
Comecei
lentamente, com o auxílio de minha bengala, a caminhar. Em sofrimento
seguia os meus curtos passos, a cada passo uma luta com a vontade de
desistir mas, cada metro vencido era uma vitória. As mudanças começaram
ocorrer, do lado de fora, o meu peso foi baixando, a maior mudança
contudo, estava ocorrendo, de forma sutil, de dentro para fora. No grupo
as pessoas compartilhavam suas histórias, de como aquele momento de
correr se tornou em um novo estilo de vida. Me encantava ver como se
dava esta transposição da superação de obstáculos nos treinos e provas
para as experiências cotidianas da vida. Neste ambiente ouvi dos 5Km,
dos 10km, sentia um misto de atração e temor pelo desafio. Entre
apavorado e exultante ouvi pela primeira vez o meu treinador dizer,
“chegou o momento, você deve se inscrever na próxima corrida de 10 Km!” A
euforia tornou-se ansiedade mas lá, no dia da prova, uns amigos se
colocaram ao meu lado e disseram, “vamos juntos, fica tranquilo você
consegue”.E assim foi, com os 15Km, os 21Km, e os 25Km, até chegar a
ideia dos 42,195 Km.
Vieram os treinos
longos. Eles me ensinaram a discernir entre prioridades, a mudar a
forma de me alimentar e descansar, a rever meus hábitos em relação ao
consumo de água e da disciplina do sono. Chegou o dia da primeira
maratona, havia memorizado o percurso, seguido a risca toda as
recomendações do mestre. Resolvi seguir um corredor experiente, queria
manter um ritmo seguro que me permitisse concluir aquela prova. Doce
ilusão, maratona não é matemática, as coisas ocorrem de maneira
surpreendente. No 33 Km meu pacer “quebrou”, agora teria que seguir só,
foi um momento de pavor. Um pouco adiante encontrei o meu treinador, ele
reforçou algumas recomendações sobre como seguir adiante e não somente
isso, ele chamou um companheiro de equipe e disse, ” acompanhe o Ziel
até o 38Km, se ele não sentir câimbras até lá, deixe-o seguir adiante.”
Quando me vi sozinho no 40Km exausto, pensei, ” vou desistir tão perto
do fim?” Nisso ouvi a voz de uma companheira de equipe que se aproximava
e dizia, ” pode tirar essa cara de desistência do rosto, eu vou te
levar até o final, respire e siga o meu ritmo!” Cruzar a linha de
chegada foi algo profundo, especial, reverente, magnífico, uma
experiência espiritual (acho que um pastor pode falar assim, não é?).
Desde 2010 essa experiência de concluir uma maratona já se repetiu por 7
vezes.
Seria necessário
um livro para poder descrever todas as transformações pelas quais tenho
passado como resultado deste novo estilo de vida, acho que ainda o
escreverei. Tudo isso me veio a mente para lembrar que, nossa humanidade
não é contrária a nossa vocação, que o cuidado com a saúde modela o
exemplo de mordomia deste dom magnífico que Deus nos deu, a vida! Como
escreveu Paulo a Timóteo; “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Isso
tem implicações ministeriais importantes. Concluir uma maratona é um
momento de glória, de certo fugaz, mas cheia de significado. É um
momento de gratidão ao Autor da Vida.
Então, o que nos impede de levar a sério o cuidado com nossa saúde física? O que isto revela?
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