O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder histórico da esquerda,
virou réu por tentativa de obstrução das investigações do megaesquema de
corrupção na Petrobras.
"A causa é por obstrução da Justiça", no
âmbito da investigação da Operação Lava Jato, declarou nesta
sexta-feira (29) uma porta-voz da promotoria de Brasília à AFP.
É a
primeira vez que o fundador do Partido dos Trabalhadores, que foi
presidente do Brasil de 2003 a 2010, irá a julgamento pelo escândalo que
defraudou a Petrobras durante uma década, custando mais de 2 bilhões de
dólares, para beneficiar dezenas de políticos, empresários e
funcionários da empresa petroleira.
Lula, de 70 anos, deixou a
presidência no fim de 2010 com mais de 80% de popularidade, devido seus
programas sociais que tiraram mais de 40 milhões de brasileiros da
pobreza.
Seu carisma foi fundamental para que o Rio de Janeiro
fosse escolhido em 2009 como a cidade-sede dos Jogos Olímpicos que
começarão em uma semana, mas seu legado foi assombrado pela gigantesca
rede de corrupção descoberta na Petrobras, em que dezenas de políticos
de seu partido estavam envolvidos.
Mas nem Lula, nem sua sucessora
Dilma Rousseff, suspensa pelo Congresso enquanto é julgada por uma
suposta manipulação das contas públicas, assistirão a cerimônia
inaugural dos Jogos em 5 de agosto, que será liderada pelo presidente
interino Michel Temer.
Na mesma decisão, o juiz federal Ricardo
Leite aceitou uma denúncia por obstrução da justiça contra outras seis
pessoas envolvidas no caso, entre elas o banqueiro André Esteves
(ex-presidente do BTG Pactual), o empresário pecuarista, e amigo de
Lula, José Carlos Bumlai e o ex-líder do Partido dos Trabalhadores (PT),
o ex-senador Delcídio do Amaral.
Após saber que irá a
julgamento, o ex-presidente insistiu nesta sexta-feira de sua inocência.
"Duvido que haja alguém mais cumpridos da lei que eu. A única coisa que
quero é respeito, que não haja um ajuizamento através dos titulares e
filtrações contra pessoas inocentes", disse em uma seminário em São
Paulo, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.
"O que fizeram foi
vingança política (...) O objetivo de tudo isso é tirar o Lula da
campanha de 2018" à presidência do Brasil, afirmou.
Lula "já
esclareceu ao procurador-geral da República, em uma declaração, que
jamais interferiu ou tentou interferir em declarações relativas a Lava
Jato", assinalou em uma nota o escritório de advogados Teixeira, Martins
& Advogados, que representa o ex-presidente.
Quando for notificado "apresentará sua defesa e ao final sua inocência será certamente reconhecida", acrescentaram.
"A
acusação se baseia exclusivamente na delação premiada de um réu
confesso e sem credibilidade, que fez acordo com o Ministério Público
Federal para ser transferido para a prisão domiciliar", acrescentaram os
advogados de Lula, fazendo referência ao ex-senador Delcídio do Amaral.
Em
declarações à promotoria, Delcídio afirmou que Lula, Esteves e Bumlai,
entre outros, se juntaram para tentar comprar o silêncio do ex-diretor
da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que se prestava a
assinar um acordo com a justiça e proporcionar detalhes de como
funcionava o esquema de subornos na estatal.
A tentativa de silenciar Cerveró motivou a denúncia pelo crime de obstrução da justiça.
A
prisão de Delcídio, em novembro de 2015, quando ainda era membro do
Congresso, convulsionou a classe política e em especial o PT, temeroso
das repercussões que sua confissão poderia trazer para seus filiados.
A
justiça investiga também se Lula, que por ser um ex-presidente não está
protegido por foros, se beneficiou de supostos pagamentos de
construtoras que obtinham contratos na Petrobras em troca de subornos.
O
ex-presidente apresentou na quinta-feira (28) uma demanda ao Comitê de
Direitos Humanos da ONU, em Genebra, para denunciar "abusos de poder"
contra ele por parte do juiz Sérgio Moro, que lidera a investigação da
Lava Jato.
O julgamento contra Lula chega em um momento
difícil para o PT, abatido por diversos escândalos de corrupção, além do
processo de impeachment de Dilma Rousseff, sua sucessora, que está em
curso no Congresso.
Rousseff foi provisoriamente suspensa em 12 de
maio, acusada por seus opositores de maquiar e usar irregularmente as
contas públicas em 2014 - ano de sua reeleição - e 2015.
O Senador
decidirá no final de agosto, após o fim dos Jogos Olímpicos no Rio de
Janeiro, se Dilma deverá ser afastada definitivamente do cargo e se seu
vice-presidente e ex-aliado político, Michel Temer (PMDB), a substituirá
na presidência até que novas eleições presidenciais ocorram em 2018.
"Estamos
esperando que o impeachment seja resolvido entre os dias 25 e 26 de
agosto, porque se for verificado nos dia 4, 5 ou 6 de setembro, o Brasil
não poderá estar na cúpula do G20 (na China). O undo necessita saber
quem é o presidente" do Brasil, disse Temer nesta sexta-feira em uma
entrevista com a AFP e outras agências internacionais.
da Isto é
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