Rádio A Melhor do Universo

17 agosto 2016

DO MEU OBSERVATÓRIO: EM MENOS DE DOIS MESES, FALECEM TRÊS ACS NO PAULISTA-PE. A SAÚDE DO TRABALHADOR EM DEBATE.



Diante de três mortes de ACS e de uma ACE no Município do Paulista-PE, em menos de dois meses, o processo de saúde do trabalhador e de vigilância em saúde do trabalhador tem de ser realmente revisto  e não só  teorizado.

https://fbcdn-sphotos-c-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xlp1/v/t1.0-9/s851x315/13882321_1243913828975620_6274023326038188041_n.jpg?oh=73837977db8cfb991b31b10eb515729d&oe=584F74D1&__gda__=1482190889_fd55f2402b940f4697c795909998f370A senil proposta e que não sai sequer do croqui de “quem cuida do cuidador” onde e quando será implantada de fato e de direito? Se depender do Conselho Municipal de Saúde, aí  que as teorias multiplicam-se, junto ao (espero que não) mais óbitos,  como consta também a inércia do Comitê de Morte Materna local.

Doenças e agravos multiplicam-se e nada é feito de fato. Basta observar a falta de prevenção a saúde do trabalhador com olhar humano, e não apenas de maneira genérica e dentro da cartilha especializada da ST.
A proteção do trabalhador no todo, é esquecida, basta olhar os Agentes de Combate as Endemias e todo um lidar cotidiano com veneno.  Trocaram o larvicida depois de anos. E os agravos? Vale a pena a insalubridade, onde o destino é doença?  
E quanto aos ACS, o descuido com a proteção solar e como se expor menos aos raios sem EPIs? Tudo isto, discutimos e apresentamos propostas, enquanto conselheiro de saúde. A réplica consistia sempre em orçamento e custos. Quando se vai discutir noutras esferas, não gostam de falar de orçamento e aí a saúde do trabalhador é descaracterizada e politizada. Só que os companheiros que partiram sem assistência, não voltam e não votam mais. Vamos eleger ou reeleger descomprometidos com a nossa causa? Quem será o próximo a receber a coroa de flores? Espero firmemente que nem tão cedo, participemos de outra cerimônia.

O  que a gente sabe na prática, é que a saúde do trabalhador é negligenciada culturalmente pelos atores principais, coadjuvantes e grande elenco. Ao se falar do SUS tem-se um conjunto de práticas sanitárias, articuladas, cuja especificidade não está de fato (digo in loco) centrada na relação da saúde com o ambiente e os processos de trabalho, exceto na vigilância em saúde, para a melhoria das condições de vida e saúde geral da população. A prevenção é feita, mas a auto prevenção, passa longe do trabalhador.

Para se ter uma idéia, há enorme dificuldade (em boa parte das UBS) onde o Trabalhador em Saúde e que trabalha diretamente com o médico, (falo especificamente do ACS) manter minimamente uma relação de atendimento e de feedback nas necessidades básicas. Como que o processo fosse pautado na seguinte forma, o profissionalismo inibindo o assistencialismo, que vai sendo protelado até chegar no óbito. Já que uma causa por esforço repetitivo, puxa outra.

Portarias habilitando cadastros de CNES ,  repasse de recursos feito pela RENAST, CEREST e demais siglas em muitos locais, sequer  avaliam o andamento das ações em Saúde do Trabalhador tendo as singularidades e especificidades que devem ser observadas. Cada caso estudado  é um caso específico, pois somos únicos. Só que os gestores não vêem assim, pelo contrário, observam só o bloco  de recursos.

Outra coisa em que serei repetitivo, o processo saúde–doença, requer um olhar próprio na saúde do trabalhador, pois só em Paulista, por exemplo, quase que se estabelece processo de doença-morte, como nos demais locais. Não só pelos óbitos e sim pelos afastamentos e desvios de função. O que se considera como fator determinante da condição de saúde? Outra coisa não menos importante, quais os agravos que permitem a intervenção na geração dos mesmos?

Até o tecnicismo da saúde do trabalhador está absolutamente inerte, calado ou pré inexistente? Perguntar não ofende: Quando foi a última reunião da Comissão de ST? Quem sabe informar sobre notificação e sub-notificação dos acidentes de trabalho, que é ainda mais acentuada no caso das doenças profissionais, pela dificuldade de diagnóstico e de estabelecimento causal?!

Lembro que enquanto participante do Conselho Municipal de Saúde do Paulista, com objetivo de melhorar as notificações compulsórias de interesse à saúde do trabalhador, foram montadas estratégias, formatadas  capacitações  para os profissionais de saúde.

Lembro também que sugerimos prioridade na atenção primária, haja visto na abertura da última conferência municipal de saúde, o discurso de prevenção foi magnífico. No entanto, não gostaram dos apartes da minha pessoa (Adalberto Filho) e do companheiro Alex Nacto, no tocante  ao cuidado com os profissionais Técnicos e dos Agentes Comunitários de Saúde e do controle social que atuam na rede municipal, bem como do usuário trabalhador e assim melhorar a atenção, prevenção e notificação. Onde a gestão tentou logo justificar o quase que injustificável.

Lembrando que a inclusão da atenção à Saúde do Trabalhador, não é favor e sim  atribuição do Sistema Único de Saúde, estabelecida na Constituição Federal de 1988, fruto da 1ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, realizada em 1986, que determinou a execução de “ações de saúde do trabalhador”, bem como a colaboração “na proteção do meio ambiente nele compreendido o do trabalho”.

Assim o conceito de Saúde do Trabalhador  é amplo e entendido como um conjunto de atividades que se destina, através de ações das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores, ferramentas que proporcionam um ambiente de trabalho saudável e seguro, bem como à recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos advindos das condições e processos de trabalho.

O objeto da mesma é a relação entre o processo saúde-doença-recuperação e o próprio trabalho, não só incapacidade e óbito.

Finalizo dizendo que há um programa de Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat) onde considera o conhecimento dos trabalhadores sobre condições, ambientes e organização do trabalho.

Aqui , alguns entendem que nós teorizamos muito, não tempo para ouvir, e só quando querem escutam o que lhe agradam.  Até quando a categoria vai aceitar o que tende  mais a se aproximar de escárnio? Qual a pressão consciente e cabível nas entidades representativas, Comissão de Saúde do Trabalhador e dos Conselhos Municipal e Estadual de Saúde?

Estou aqui fazendo o papel de interlocução próprio, cobrando os serviços de saúde e deflagrando ações, sejam de ordem interdisciplinar e interinstitucional, antes de ser sindicalista e ACS, sou pessoa, usuário do sistema SUS estando intimamente relacionado ao processo de trabalho e à saúde. Além disso, constitui um programa de promoção à saúde dos trabalhadores que traduz os objetivos e finalidade do SUS. Só que da maneira que vai, vamos enterrar uns aos outros, colegas e amigos e nada será feito? 
Vamos carregar a culpa da negligência, onde nenhum legado satisfatório será desfrutado ainda em vida? Não. Rechaço tal idéia e, novamente temos que voltar as mesas de reuniões não com teorias mirabolantes sem a menor intenção de execução. Proponho a iniciação dos fóruns urgentes e práticos com as categorias da saúde para as deliberações específicas. Tenho dito e aceito sugestões.

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