Rádio A Melhor do Universo

08 outubro 2013

O PLANO C DE MARINA



Aparentemente incompreensível: como uma candidata que chegou a 26% tendo alternativas para viabilizar sua postulação, ainda que complicadas, difíceis, opta por apoiar outro com um patamar de 7%?

Marina teve a coragem de fazê-lo e seu ato foi de estadista: analisou o que o Brasil precisava, fez uma lúcida e desassombrada análise das circunstâncias e desdobramentos e deu uma volta por cima desconcertante que ninguém seria capaz de prever.

Ela poderia ter facilmente encontrado um partido para lhe “dar legenda” e se candidatar a presidente. Teria um partido tradicional, sério, como o PPS. Passaria a campanha tendo que explicar porque dez dos seus doze deputados haviam votado com os ruralistas na votação decisiva do Código Florestal, inclusive um, ruralista, particularmente truculento, de Rondônia. Se optasse como alguns sugeriam por um partido da “sopa de letrinhas” invariavelmente se veria assombrada pelos esqueletos e mais esqueletos pulando dos armários de cada um deles.

Eu, pessoalmente, estava disposto a conviver com a primeira hipótese(PPS) mas me preocupava não só a sua performance ambiental como o tom político mais geral: Marina e todos nós, em geral, podemos ser altamente críticos dos rumos atuais do governo mas incorporamos boa parte do saldo de 2002 para cá. Somos críticos mas não oposição sistemática, como vem sendo o PPS. Internamente à Rede haveria muito ranger de dentes.

Nada disso seria fatal, a priori, mas, certamente, um fardo. E a opção por algum nanico lato senso, por sua vez, seria extremamente perigosa.

Outra alternativa era simplesmente ficar de fora com Marina jogando um papel de abandeirada da sociedade civil podendo fazer uma anticampanha programática com em algumas eleições dos anos 80 e 90 fizemos com as “listas verdes”. Isso, no entanto, nos remeteria a uma era mais antiga do movimento ambientalista. Foi o que Marina chamou de opção “Maria Teresa de Calcutá”.

Nenhuma dessas possibilidades era atraente. Mas elas pareciam as únicas que restavam à Rede. Pessoalmente eu me dispunha, já há bastante tempo, apoiar Eduardo Campos caso Marina não fosse candidata. Era notoriamente meu plano B. Mas sempre encarei isso como uma opção individual minha e de Sérgio Xavier, algo absolutamente inviável de ser emplacado na Rede.

Fazer essa proposta para o coletivo, na noite fatídica da decisão do TSE pareceria uma insensatez passível de linchamento político --simbólico, entenda-se—além de representar uma insensibilidade sem tamanho com nossa candidata. Ninguém teria coragem de propor um despautério desses, a não ser... a própria Marina!

Ela já vinha cozinhando a coisa com seus botões quando começou a falar em “plano C”, pouco antes de cairmos numa discussão perfeitamente dispensável que começou com uma reclamação dela, de efeito retardado, sobre uma afirmação que eu fizera, uma hora antes e que lhe soara injusta sobre a Rede.

Fora uma discrição da nossa heterogeneidade com uma alusão aos evangélicos que lhe pareceu ofensiva quando essa não havia sido absolutamente minha intenção --alias, sou dos quadros de esquerda laica um dos que tem melhor diálogo com esse segmento, por diversos motivos, inclusive familiares.

A reclamação dela acendeu meu pavio --notoriamente curto-- numa hora de stress e cansaço acentuados. Não vou aqui falar mais sobre esse pequeno incidente. O fato é que minha impaciência e irritação me levou a privar-me da continuidade daquela discussão e, sobretudo, do final do novelo de lã que Marina começava naquele momento a tecer, pacientemente, sem que ninguém o percebesse.

No final do novelo havia um Deus-ex-machina: uma reviravolta no processo eleitoral brasileiro de 2014.

Os “spin doctors” do Planalto jamais o preveriam! Ao, nas suas próprias palavras, “derrubar o aviãozinho de Marina na pista de decolagem” buliram com a lei das consequências inesperadas: potencializaram a candidatura de Eduardo Campos que tem um potencial bastante evidente: uma estrutura política nacional, uma articulação com prefeitos. Um histórico de esquerda inatacável.

E um legado de gestão: trata-se do governador mais popular do país, reeleito com uma votação consagradora e aberto a novas ideias, particularmente às de sustentabilidade.

Marina identificou aí alguém que se comportara fraternamente com a Rede –para além daquela cordialidade política interessada-- alguém com quem pode se tentar um caminho de aliança programática para aprumar os rumos de um país cuja governança entra em pane. Uma aliança eventualmente plausível de ganhar e de governar.

Solitariamente ela encontrou e depois conseguiu fazer valer ante quase todos sonháticos de uma alternativa arriscada certamente mas menos problemática que as anteriores. Quem sabe uma decisão que entrará para a história como um gesto ousado, humilde e desprendido que surpreendeu e depois mudou o Brasil.



do blog do Sirkis

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