Moradores
da localidade, em Paulista, no Grande Recife, juntam as forças e
levantam documentos para entrar com ação na Justiça contra a devastação
na área.
Margeada por mata, a Estrada do Frio, em Paulista, no Grande Recife,
está perdendo o verde e o clima que deu origem ao nome para
empreendimentos imobiliários. "Aqui, antes, tinha tantas árvores que
fazia frio. Agora, além do calor, estamos amargando a poeira levantada
pelos caminhões que não param de aterrar", reclama a costureira Luzinete
Correia de Oliveira, 65 anos, há 43 vivendo numa antiga vila operária
formada por 50 casas.
Para tentar conter o desmatamento, o genro dela, o administrador de
empresas José Dias de Araújo, está juntando documentos para entrar na
Justiça com uma ação de usucapião. "Plantamos macaxeira, inhame e milho
em meio às árvores que existem há anos na frente da casa, no terreno que
uma construtora alega ser proprietária. O advogado deles veio aqui
perguntar quanto a gente queria para ficar quieto, mas a gente não quer
dinheiro, a gente quer as árvores em pé", alega.
Os moradores já prestaram queixa na delegacia duas vezes. "O primeiro
boletim foi feito porque eles estavam desmatando tudo e tinha teju, preá
e iguana morrendo. O segundo foi porque eles derrubaram a cerca",
relata José Dias de Araújo. O administrador calcula em 3.362 metros
quadrados a área plantada na frente do imóvel, localizado na Vila
Almirante Tamandaré, no bairro de Aurora.
Indignado com a morte dos animais e com a perda da sombra das
macaibeiras e algodoeiros da mata, outro morador, o autônomo José Elias
Francisco Fernandes, 56, também está reunindo documentos para dar
entrada com a ação de usucapião, em que usuários há mais de cinco anos
da terra têm direito ao título de posse.
Ele conta que as árvores começaram a ser derrubadas há dois anos.
"Quando a gente reclamou eles passaram a usar retroescavadeiras. Cavavam
ao redor da raiz e saíam. Dessa forma a árvore caía sozinha e a gente
não pôde fotografar a ação criminosa", lembra José Elias. Ele cultiva,
além de inhame e macaxeira, feijão-verde, batata-doce, graviola e caju.
Segundo Luzinete, a vila pertencia à Companhia de Tecidos Paulista.
"Comprei minha casa em 1986. Tenho todos os documentos", atesta. Na
frente da fileira de moradias, embora haja espécies de mata atlântica,
predominam frutíferas. No terreno de trás, no entanto, há uma floresta
que os moradores dizem ter 97 hectares e chamam de Mata do Frio.
Do outro lado da estrada, na frente da área que está sendo aterrada,
também há uma mata. Com espécies introduzidas como dendezeiro e
mangueira na borda, no interior ainda guarda uma floresta de árvores
altas e nativas. Segundo os moradores, também se trata da Mata do Frio.
"Tem gente que derruba as árvores para cultivar bananeira e outras
plantas. A gente sempre denuncia, mas, depois que a polícia vai embora,
eles voltam a ocupar", lamenta a costureira. Na Mata do Frio, além de
clareiras abertas para plantações, há espalhados por toda parte muito
lixo e despachos com travessas de barros, velas coloridas, restos de
frutas, farofa e garrafas de bebida alcoólica.
do Jornal do Commercio
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