Rádio A Melhor do Universo

01 julho 2012

AS CLASSES MÉDIAS NA BERLINDA, POR FHC


  

É hora de reforçar valores desses segmentos, como a honestidade
Desde abril até agora viajei bastante, saindo e voltando ao Brasil. Fui aos Emirados Árabes, ao México, ao Japão, à China e, na semana passada, ainda fui a Buenos Aires. Sempre articipando de seminários ou fazendo conferências. Lia, naturalmente, os jornais locais que tinham edição em inglês.
Por toda parte, um assunto dominante: a crise econômica. Em alguns países, mesmo com regimes políticos muito diferentes, como China e Brasil ou Argentina, alguma preocupação com a corrupção.
Nessa mesmice, li com prazer em Buenos Aires, no “La Nación”, um artigo de Marcos Aguines, “O orgulho da classe média”, reproduzido no dia seguinte no GLOBO.
Aguines desacredita da visão, que predominava nos círculos de esquerda, de que a classe média — a pequena burguesia, como era chamada — seria a Geni da História. Fascinados pelo papel revolucionário e liberador da revolução proletária e, mais tarde, pelo ímpeto das massas ascendentes, os ideólogos de esquerda — e não só eles, pois a moda pegou — não viam mais do que atraso e mesquinhez na classe média, os “desvios” pequeno-burgueses e a tibiez que lhe tirava o ímpeto para transformar a sociedade.
Provavelmente, em certas conjunturas históricas, especialmente na velha Europa, era assim que as classes médias agiam. Basta ler os romances de Balzac como “Eugénie Grandet” ou “O Pai Goriot” para sentir que essas camadas ficavam apequenadas, mesquinhas, diante da burguesia vitoriosa ou da nobreza decadente aliada à mesma.
Entretanto, terá sido essa a posição das classes médias nas Américas e nos países de imigração?
Dou a palavra a Aguines: na Argentina, tanto no campo como nas cidades, as classes médias se expandiram e começaram a construir valores que deram suporte para três culturas, “a cultura do trabalho, a cultura do esforço e a cultura da honestidade”. O mesmo, acrescento, terá ocorrido na Austrália ou no Canadá e, de outra maneira, nos Estados Unidos.
E, no caso brasileiro, terá sido distinto? Esmagadas entre a escravidão e o senhorio rural, agraciadas aqui e ali com algum título não hereditário durante o Império, as classes médias urbanas, compostas por profissionais liberais, funcionários públicos, militares, professores e poucas categorias urbanas mais, no que iriam se apoiar para manter as distinções e realizar algo na vida?
Basicamente na escola e nos valores familiares que levam ao trabalho. Tudo com muito esforço. 

do Blog do Noblat

Nenhum comentário:

Postar um comentário