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31 janeiro 2013

DELEGADO DE SANTA MARIA POSTA FOTO QUE MOSTRA USO DE FOGO NA BOATE KISS


Junto com a imagem, Marcelo Arigony escreveu: 'Tirem suas conclusões'.
Imagem mostra labaredas acionadas por animadores em evento.

Do G1 RS

Delegado posta foto que mostra uso de fogo na boate Kiss (Foto: Reprodução/Facebook)O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, postou na madrugada desta quinta-feira (31) em sua página do Facebook uma foto feita em 2012 que mostra labaredas produzidas na boate Kiss. No último domingo (27), 235 morreram após o incêndio que atingiu a casa noturna.
Na postagem, o delegado diz que recebeu a imagem e comentou. "Tirem suas próprias conclusões", diz a atualização. Na foto, dezenas de animadores de festa de uma empresa de Santa Maria estão posicionados em frente a telões que estampam o nome da boate. Dois deles seguram latas de aerosol que produzem grandes labaredas.
Na manhã desta quinta-feira, o delegado o comentou o assunto. "Parece ser na Kiss. Postei para mostrar que estamos na linha certa. É muito temerário falar qualquer coisa nesse sentido, mas é óbvio que usam fogos (na Kiss). Não só lá, mas também em outras boates", disse à reportagem da RBS TV.
O chefe de Polícia do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior, afirmou que acionará o setor de inteligência para averiguar a imagem.
"Não vi essa foto, então ainda não posso me manifestar. Vou passar essa informação para o nosso setor de inteligência e eles vão avaliar. Em tese, falando de uma forma genérica, uma foto como essa pode ajudar na investigação, já que comprovaria que o fogo já foi utilizado na boate antes da tragédia", disse.
A foto teria sido tirada em setembro de 2012. Em contato com o G1, a empresa que gerencia os animadores afirmou que "não tem nada a ver com os incidentes ocorridos na boate".
Número de feridos
Um novo boletim sobre o número de feridos que seguem internados em hospitais do estado será divulgado a partir das 11h. De acordo com números divulgados pelo SUS na noite de quarta-feira (30), 134 pacientes estavam em atendimento em hospitais de cinco cidades do Rio Grande do Su.

Entenda
De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores, é possível afirmar que:

- O vocalista da banda Gurizada Fandangueira segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era comum a utilização de fogos no palco durante apresentações do grupo musical.
- A banda comprou um modelo de sinalizador proibido para ambientes fechados.
- Pelo menos um extintor de incêndio não funcionou ao ser manipulado pelo segurança.
- Havia mais público do que a capacidade de 691 lugares apontada pelos Bombeiros.
- A boate tinha apenas um acesso, para entrada e saída, sem saídas de emergência.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido desde 10 de agosto de 2012.
- Mais de 180 corpos de frequentadores foram retirados dos banheiros da casa noturna.
- Cerca de 90% das vítimas fatais tiveram como causa da morte asfixia mecânica.
- Os equipamentos de gravação de imagens estavam em uma empresa de manutenção.

(Veja o que já se sabe e as perguntas a responder)
Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela segurança e outros serviços.

Investigação
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao G1 na terça-feira (29) que uma soma de quatro fatores contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.

O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também na terça que a Polícia Civil tem "diversos indicativos" de que a boate estava irregular e não podia estar funcionando. "Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes", disse em entrevista. "Mas isso ainda é preliminar e precisa ser corroborado pelos depoimentos das testemunhas e os laudos periciais", completou.
Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que não deveria ser usado durante show em local fechado. "O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais barato”, disse o delegado.
O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que segurou um sinalizador aceso durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra. O músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia manipulado esse tipo de artefato por diversas vezes em outras apresentações.
Responsabilidades
A boate Kiss desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento utilizado como isolamento acústico.

A Brigada Militar informou nesta quarta que a boate não estava em desacordo com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número de saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através de uma só porta. "Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu colocar", disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre.
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, disse que a casa noturna estava em "plenas condições" de receber a festa. Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse que a banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores naquela noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público vistoriou o local "diversas vezes".
A Prefeitura de Santa Maria se eximiu de responsabilidade pelo incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de validade de inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de Bombeiros. A prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas sobre o alvará de localização, que é válido com a vistoria do ano corrente. O documento informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de 2012.
O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela lei vigente no Brasil. "Quem falhou, que assuma a sua responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não vou entrar em jogo de empurra-empurra", afirmou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na terça para investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e sanitária vencidas.
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Infográfico: tragédia de Santa Maria - 29/01 (Foto: Editoria de Arte/G1)
 

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