Sandro Vaia
José Genoino é um homem de palavras e sentenças cortantes.
Durante
vários anos foi a voz oficial do PT na imprensa conservadora.Teve uma
coluna fixa na página 2 do Estadão e mais do que isso, o insuspeito voto
de um dos ícones do reacionarismo burguês que forma a opinião do
jornal.
Durante muito tempo, José Genoíno
foi o petista limpinho, civilizado e ordeiro que tornou respeitável a
opinião do partido revolucionário que queria queimar as instituições
para implantar seu modelo socialista. A face palatável do partido para
os burgueses que tinham horror aos barbudos revolucionários. Até o
cavanhaque dele, a la d`Artagnan, era mais fotogênico, arrumadinho,
geometricamente bem cortado.
José Genoino
sempre foi um homem honrado e o seu passado de luta revolucionária uma
medalha de honra ao mérito como aquelas que os meninos bem comportados
ganham nos colégios internos.
Enfim, um fenômeno: um revolucionário respeitado e querido pelos reacionários.
Na época do mensalão, José Genoino carregava o andor de presidente do Partido dos Trabalhadores, como uma espécie de avalista das boas intenções do partido. Como desconfiar de um partido entregue à presidência de um sacristão de bons modos como ele?
Na época do mensalão, José Genoino carregava o andor de presidente do Partido dos Trabalhadores, como uma espécie de avalista das boas intenções do partido. Como desconfiar de um partido entregue à presidência de um sacristão de bons modos como ele?
Depois
aconteceu o que todo mundo sabe. Aos poucos, enquanto as investigações
iam avançando e as evidências da existência do mensalão foram se
acumulando, Genoino foi perdendo a altivez, o peito empombado murchou um
pouco e a voz metálica foi perdendo o tom afirmativo, altaneiro e
superior. Não bastasse o mensalão, veio o patético episódio dos dólares
na cueca.
Genoino se escondeu na humildade,
passou por um início de depressão, escondeu-se no quarto dos fundos de
sua casa, perdeu o brilho, seu orgulho empanou-se. Ele tornou-se opaco.
Condenado
a seis anos de prisão por corrupção e formação de quadrilha, será
beneficiado com regime semi-aberto e poderá trabalhar normalmente de dia
e dormir na prisão. Se comparado a José Dirceu, dito o chefe da
quadrilha, um mal menor.
Suplente de deputado assumiu a vaga
do titular numa cerimônia realizada quinta-feira na Câmara. Filigranas
jurídicas sobre a viabilidade ou não de um recurso à Suprema Corte,
última instância do julgamento, permitiram que fosse diplomado.
Zangado,
mal humorado e tratando a pontapés a imprensa que sempre lhe estendeu
tapete vermelho, parece de mal com a vida assumindo um dos maiores
paradoxos vivos criados pela adolescente democracia brasileira: temos,
sabe lá por quanto tempo, uma pessoa condenada por desobedecer à lei
considerada apta a escrever leis.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da
Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da
Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do
livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana
Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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