PLANOS DE SAÚDE PARA OS POBRES
Gilson Carvalho
Fomos surpreendidos em 27/2/2013 por notícia vinculada na Folha de
São Paulo de que os planos de saúde e seguradoras foram provocados pela
presidente para oferecerem planos de saúde mais baratos e com melhor
atendimento. Em contrapartida, dois presentes do governo: desoneração
fiscal e aumento da clientela!
As mensagens explícitas: (estudos e reuniões desde o início de 2013)
ü Dilma pessoalmente negocia com seguradoras e administradoras de planos de saúde;
ü Pacote: medidas de estímulo financeiro ao setor em troca de melhoras de atendimento;
ü Do lado do governo: redução de impostos; linha de financiamento
para infraestrutura hospitalar; solução para dívida das Santas Casas;
ü Do lado dos planos de saúde: redução de preços para facilitar
acesso de pessoas aos planos privados; elevar o padrão de atendimento.
Alguns números interessantes para avaliação da dimensão do Sistema
Suplementar de Saúde. Os dados de 2012 consolidados só serão publicados
no final de março. Hoje trabalhamos com dados de setembro de 2012. As
operadoras de planos médico-odontológicos de saúde somam a 1245. A
clientela a 47,6 milhões. O faturamento global em 2011 foi de 85,5
bi. Estima-se que nos dados consolidados de 2012 chegue perto de 100
bi.
De outro lado precisamos conhecer os números de gastos tributários
(renúncia fiscal) da União com Saúde. Para2013 são da ordem de R$20,9
bilhões, segundo dados da Receita Federal. Em relação ao imposto de
renda R$13,3 bi (pessoas físicas R$9,9 bi e pessoas jurídicas R$3,4 bi).
Para medicamentos e produtos químicos e farmacêuticos R$4,2 bi e para
as filantrópicas R$2,6 bi. Dois outros programas para oncologia
edeficientes tem uma desoneração esperada é de mais R$0,8 bi.
A renúncia fiscal do imposto de renda está intimamente ligada à
desoneração dos planos que pela lógica contábil é cofinanciado por todos
os cidadãos. Também a renúncia de medicamentos está estendida a planos e
seguros, bem como a das filantrópicas que são beneficiadas pela
renúncia e muitas delas oferecem estas instalações para atendimento de
seus próprios como de outros planos e seguros.
A proposta do governo para seguradoras e operadoras oferecerem planos
de saúde para os mais pobres temduas iniquidades intrínsecas. Para os
planos, desoneração. Para os pobres uma sobretaxa pois além de pagarem
ao SUS, obrigatoriamente, pagarão mensalidades onerando sempre as
famílias mais numerosas com menor renda per capita.
O governo, abandonando seu papel constitucional de oferecer e
garantir um sistema de saúde para todos os cidadãos, faz a maldade
completa. Desonera os planos e onera mais os cidadãos.
Pior. Todos sabemos que a história se repetirá: os planos de saúde
acolherão preferencialmente os mais jovens (os sem doenças) e rejeitarão
os mais velhos (os com doenças). Mais. Como acontece já hoje: farão
procedimentos mais simples e baratos e deixarão ao SUS (direito de todos
oscidadãos) a execução de procedimentos mais complexos e caros. E se a
lei determina ressarcimento continuarão usando de todos os recursos
legais para não pagá-lo. É a facilidade da opção esperta de ter lucro
sem matéria: recebe por tudo e só oferece parte.
Uma série de questionamentos se impõe:
Ø Dilma se assessorou de alguém que entenda a Constituição
Brasileira e as leis de saúde com a obrigatoriedade de garantia de saúde
pública para todos os cidadãos: o tudo para todos (integralidade com
universalidade)?
Ø Para melhorar a qualidade do atendimento contratual às pessoas o governo tem que oferecer compensações financeiras?
Ø A questão das Santas Casas e seu déficit crônico na maioria delas,
principalmente as de pequeno e médio porte, tem alguma coisa a ver com a
renúncia fiscal dos planos ou misturaram-se os canais para gerar
compaixão?Grandes e essenciais diferenças: as Santas Casas são parceiras
do público e mal remuneradas em preços e prazos. Planos e Seguros
estabelecem uma relação comercial lucrativa (lícita pela CF) baseada
entre outras na lei do direito do consumidor.
Não existe milagre na saúde. A proposta dos governos progressistas
dos últimos anos nada mais é que reforçar a proposta neoliberal, usando
exatamente o discurso contrário. Ao invés de garantir cada vez mais
recursos e eficiência ao setor público, trabalha-se em sentido
contrário. A meta é diminuir a universalidade da clientela. Levar as
pessoas a cada vez mais se utilizarem de planos privados de saúde
pagando sobre o que já pagam. Enfiando a mão no bolso para suprir o que
lhe falta e que já está garantido por impostos e contribuições.
Isto acontece sem manifestação do Ministério da Saúde, do Conselho
Nacional de Saúde e do Ministério Público. Os planos privados de saúde
são constitucionais dentro da liberdade de exercício da saúde privada no
Brasil. O erro, cantado em prosa e verso é que, ao invés de terem ônus
para com o público, cada vez o público aplaina mais seus caminhos.
O SUS enfraquecido por quem deveria fortalece-lo e a clientela
entregue ao mercado! Bravo e aplausos aogoverno progressista e voltado
ao social que elegi!!!
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