Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
Deu
na coluna de ontem do Ilimar Franco (Panorama Político): prefeitos
relataram que estão com dificuldade de contratar empresas de ônibus; as
concessionárias não têm se habilitado às licitações. Alegam que vão
perder dinheiro, pois se tornou inviável aumentar o preço das tarifas.
Ou
seja: o transporte urbano vai piorar nessas cidades, mesmo que as
prefeituras assumam o serviço. Nesse negócio, o setor público gasta mais
e entrega menos.
Deu no “Valor” de terça: o Ministério dos
Transportes vai dispensar as concessionárias de rodovias federais de
novos investimentos. É uma forma de compensar a suspensão do reajuste de
pedágios, única fonte de receita das empresas.
Ou seja, uma
violação de contrato (a suspensão dos reajustes) compensada por outra
(investimentos cancelados). As estradas vão piorar e os programas de
privatização de infraestrutura estarão prejudicados por mais uma
insegurança jurídica.
Imagino que terá gente dizendo: estão vendo? Os manifestantes fazem aquela baderna e dá nisso, tudo piora.
É
um erro de julgamento, claro. Muita coisa, de fato, pode piorar, mas a
culpa não será dos manifestantes. Será dos políticos que estão no poder —
federal, estaduais e municipais — que não sabem como responder à
demanda das pessoas. Esses manifestantes, na verdade, serão vítimas duas
vezes: na primeira, pelo uso dos serviços ruins; na segunda, pela piora
dos serviços em consequência da inépcia dos governantes.
Nenhuma
pessoa normal é obrigada a saber a planilha de custos de um serviço
público, seja de uma viagem de ônibus ou de um atendimento no posto de
saúde. Mas qualquer pessoa sabe se o serviço é bom ou ruim. Os
manifestantes reclamaram do que percebem como ruim. Também reclamaram do
preço que pagam, quer diretamente, via tarifas, quer indiretamente, via
impostos.
(Aqui, aliás, tem um fato curioso: nos últimos anos,
aumentou o número de trabalhadores com carteira assinada, ou seja, o
número de pessoas que podem ver no contracheque o quanto pagam para os
governos.)
Cabe aos políticos/governantes saber exatamente quanto custa o serviço e, mais importante, quem vai pagar a conta.
Leia a íntegra em Vai piorar
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