Acidentes fatais na construção de grandes estádios não são raros - até novo Wembley teve vítima. Mas o Brasil já ultrapassou o número do último Mundial
Peça da cobertura do Itaquerão desaba no começo da tarde desta quarta-feira (27), em São Paulo - Ivan Pacheco
Seis estádios da Copa precisam ser concluídos ainda neste ano.
Com o prazo cada vez mais apertado, corre-se o risco de aumentar a
exposição dos operários a situações de maior vulnerabilidade
Mesmo com a evolução das técnicas, materiais e equipamentos
envolvidos na construção de grandes estádios, os acidentes fatais nesse
tipo de obra não são uma ocorrência tão rara. Até alguns dos estádios
mais modernos (e mais caros) do planeta tiveram vítimas em seus
canteiros de trabalho. Ainda não se sabe ao certo que tipo de falha
desencadeou a tragédia ocorrida nesta quarta-feira no Itaquerão, em São
Paulo - a construtora Odebrecht ainda promete divulgar os detalhes do
caso e o Ministério Público já anunciou que fará uma investigação.
De qualquer forma, o desabamento do guindaste sobre parte de
uma arquibancada do futuro estádio do Corinthians deixa uma marca
bastante negativa nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Com as
duas mortes desta quarta - as vítimas são Fábio Luiz Pereira, de 42
anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 -, o Brasil supera a África
do Sul em número de óbitos registrados nas obras nas arenas erguidas
para o Mundial. Antes do torneio de 2010, dois sul-africanos morreram
nos estádios. No Brasil, cinco operários perderam a vida nos canteiros.
A obra na Zona Leste de São Paulo é conduzida por uma das maiores e
mais qualificadas empreiteiras do país. A Odebrecht assegura ter
observado todos os procedimentos de segurança no trabalho desde o início
da construção do estádio. O histórico das grandes obras do setor,
porém, mostra que isso não é garantia de proteção total aos operários -
pela própria natureza desse tipo de empreitada, de grande complexidade e
enormes dimensões, os riscos nunca são anulados por completo. Dois dos
cinco estádios mais caros do mundo, Wembley, em Londres, e Cowboys
Stadium, em Dallas, tiveram trabalhadores mortos em suas obras. No novo
Wembley, houve o desabamento de um andaime; em Dallas, um operário foi
eletrocutado. Nos arredores de San Francisco, o Levi's Stadium, já
confirmado como palco do Super Bowl em 2016, está orçado em 1,2 bilhão
de dólares e tem conclusão prevista para 2014. Com um projeto inovador,
cheio de novidades nas áreas de tecnologia e preservação ambiental, o
estádio, localizado na região do Vale do Silício, já registra dois
operários mortos em sua construção.
Na África do Sul, onde a segurança do trabalho ainda tem muito a
avançar, dois acidentes fatais foram registrados nas obras de reforma e
construção dos dez estádios usados na Copa de 2010. De acordo com as
organizações sindicais que monitoraram as obras, Dumisani Koyi, de 28
anos, morreu no Estádio Peter Mokaba, em Polokwane, em 15 de agosto de
2008, e Sivuyele Ntlongotya, de 26 anos, foi vítima de um acidente no
Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, em 15 de janeiro de 2009. Apesar
de já estar num estágio superior que a África do Sul no quesito
segurança na construção civil, o Brasil soma cinco mortes nos canteiros
de obras dos doze estádios para o Mundial. Incluídos os acidentes fatais
ocorridos na construção de outras duas novas arenas brasileiras - a do
Grêmio, em Porto Alegre, e a do Palmeiras, em São Paulo -, são sete os
operários mortos em apenas dois anos. Seis estádios do Mundial já estão
prontos e em uso. Outros seis - Itaquerão, Beira-Rio, Arena da Baixada,
Arena Pantanal, Arena das Dunas e Arena Amazônia - precisam ser
concluídos ainda neste ano. Com o prazo cada vez mais apertado, corre-se
o risco de aumentar a exposição dos operários a situações de maior
vulnerabilidade.
Obras no estádio do Corinthians em Itaquera, em maio de 2013 - Paulo Whitaker/Reuters
Vista noturna do lado de fora do Itaquerão - Ivan Pacheco
da Veja
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