Em maio de
2012, tive a oportunidade de realizar uma viagem sonhada desde a
infância, até Macchu Pichu, por um meio que até bem recentemente era
impossível: por rodovia.
No retorno
de Cuzco a Cuiabá, fiz questão de entrar em Xapuri, no Acre, pequena
cidade que fica a apenas 12 km da Rodovia Interoceânica, ou Rodovia do
Pacífico, que liga o Brasil ao Peru.
Minha visita a Xapuri foi para conhecer o local onde viveu e morreu esse grande herói brasileiro, Chico Mendes.
Visitando o
Acre, ainda que de passagem de ida e volta pela Amazônia
brasileira/peruana, pude parar o suficiente para ver com meus próprios
olhos a pujança da região, a alegria e as dificuldades do povo em lidar
com a selva hostil, a complicada, animada e escancarada conurbação de
Brasileia e Epitaciolândia com Cobija (Bolívia), a pacífica fronteira da
simpática Assis Brasil com Iñapari (no Peru) conturbada pela "invasão"
dos haitianos, e as chagas do desmatamento nas matas acrianas.
Como você percebe, trata-se de uma tríplice fronteira bem diferente daquela patrocinada por Brasil, Argentina e Paraguai na região de Foz do Iguaçu (PR), mas igualmente movimentada, só que em menores proporções.
Sim, existe
vida no Acre, posso garantir pois eu mesmo tive o privilégio de
constatar. Vida bela e aguerrida de um povo digno e alegre como há em
qualquer outra região do Brasil. E, se existe vida nas franjas
amazônicas do extremo oeste brasileiro, isso se deve - em grande parte -
à luta de gente como Chico Mendes.
A foto acima
é da casa de Chico Mendes, local onde ele foi assassinado exatos 25
anos atrás, e foi tirada por mim mesmo. Um registro para a história que
serve também como minha homenagem a esse grande brasileiro.
A matéria abaixo é do Terra:
Há 25 anos, morria Chico Mendes, mártir do meio ambiente
Francisco Alves Mendes Filho levou um tiro no pátio de casa por defender seus ideais contra fazendeiros
Em
22 de dezembro de 1988, um tiro de espingarda disparado em Xapuri, no
interior do Acre, ecoou por toda a Amazônia. Estirado no pátio de casa,
assassinado a mando de fazendeiros, o seringueiro e sindicalista
Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, aos 44 anos,
converteu-se em mártir da causa ambientalista, chamou a atenção do mundo
inteiro para a proteção das florestas e promoveu o debate ecológico no
Brasil.
Duas
semanas antes, em entrevista ao jornalista Edilson Martins, Chico
Mendes anunciou que estava sendo ameaçado de morte pelos irmãos Darly e
Alvarinho Alves, da Fazenda Paraná. Contava, inclusive, com policiais
militares que lhe faziam segurança 24 horas por dia. Mas tinha medo de
que a proteção não seria suficiente. Estas foram suas últimas palavras
na entrevista: "Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que
minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a
experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e
enterro numeroso não salvarão a Amazônia".
No
Jornal do Brasil, a matéria foi publicada três dias depois da morte do
ativista. Pelo crime, Darly Alves da Silva, como mandante, e seu filho
Darci, como executor, foram condenados a 19 anos de prisão. Em 1993, os
dois fugiram da cadeia e só foram detidos três anos depois. Da pena,
cumpriram seis anos em regime fechado. Então progrediram para o regime
semiaberto e domiciliar.
De
fato, o enterro de Chico Mendes não salvou a Amazônia. Porém sua morte,
de forma trágica, fortaleceu a sua luta. Seus ideais ganharam
manchetes, seu nome formou institutos de preservação da natureza, as
políticas em prol do meio ambiente se fortaleceram, as Reservas
Extrativistas se expandiram e as áreas de proteção ambiental se
multiplicaram.
Na
semana passada, o ativista foi reconhecido, por lei, como patrono
nacional do meio ambiente. Em sessão solene na Câmara dos Deputados, sua
filha, Ângela Mendes, apontou conquistas no Acre, onde 47% do
território são reservas extrativistas, mas observou que ainda há muito o
que fazer. "Meu pai nunca gostou de títulos. Por isso, eu ouso dizer,
sem medo de errar, que o título de herói nacional e patrono do meio
ambiente brasileiro só terá valor, de fato, quando não houver mais
nenhuma morte por conflito de terra, quando não houver mais injustiças e
ameaças contra aqueles que, de fato, defendem o meio ambiente",
afirmou.
Foi
justamente para defender o meio ambiente e os direitos dos seringueiros
que Chico Mendes aprendeu a ler, aos 20 anos. Nascido em 15 de dezembro
de 1944, em Xapuri, trabalhou desde criança no seringal Porto, com seu
pai. Aprendeu desde cedo as injustiças que eram cometidas contra os
trabalhadores da floresta – e contra a própria floresta. A partir de
1973, passou a se envolver em conflitos de terras com fazendeiros. Dois
anos depois, criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia.
Então ganhou mais destaque ao promover os "empates", manifestações
pacíficas de seringueiros que protegiam as árvores com o próprio corpo.
Em 1977, fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e foi
eleito vereador na Câmara Municipal. Um ano depois, recebeu sua primeira
ameaça de morte. Em 1980, foi um dos fundadores do Partido dos
Trabalhadores no Acre.
Com
aumento da repercussão internacional a respeito da situação da Amazônia
e dos seringais, representantes da Organização das Nações Unidas
visitaram Xapuri em 1987. Lá presenciaram a devastação da floresta e a
expulsão dos seringueiros provocadas por projetos financiados por bancos
estrangeiros. Mendes chegou a levar as denúncias ao senado americano,
sem falar uma palavra em inglês. E obteve êxito: os financiamentos foram
suspensos. Assim, o ativista enfrentou outro problema: foi acusado de
prejudicar o progresso do Acre, especialmente por fazendeiros e
políticos da região. No ano de sua morte, ganhou o prêmio Global 500,
oferecido pela ONU.
Desmatamento
Desde
1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais analisa e apresenta
as taxas anuais do desflorestamento da Amazônia Legal. Naquele ano,
21.050 km2 de florestas foram devastadas. Em 25 anos, o desmatamento
anual foi reduzido em mais de 70%. Em 2013, a destruição ficou em 5.843
km2, a segunda menor taxa da história, atrás de 2012.
De
acordo com Danicley Saraiva de Aguiar, coordenador da Campanha da
Amazônia do Greenpeace, a criação de gado segue como um dos maiores
vetores de desmatamento. "Basta uma análise mais cuidadosa para
percebermos que os rebanhos bovinos na região aumentaram nas últimas
décadas, a taxas mais altas do que no resto do país. Mesmo que
localizadamente, o cultivo de grãos continua sendo uma ameaça
considerável, e com um forte potencial de destruição", explica.
Para
o Greenpeace, que atua na proteção das florestas da região amazônica e
se inspira nos ideais de Chico Mendes, essa melhora no índice não é
suficiente. "Zerar o desmatamento da Amazônia deveria estar entre os
interesses estratégicos do Brasil, pois lideramos um seleto grupo de
países que dominam as maiores riquezas naturais do mundo e que, em vez
de utilizá-las com sabedoria para gerar um ciclo sustentável de riqueza,
ainda se utiliza de um modelo de desenvolvimento ecocida. O
Desmatamento Zero está na essência de qualquer estratégia na qual a
floresta é um ativo, e não um obstáculo", acredita Aguiar.
de O contorno da sombra
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