Destaque
vergonhoso para a declaração do padre: "Outro dia surpreendi duas
senhoras dizendo que deveriam trocar o galo que há no topo da igreja por
um urubu. Foi muita humilhação".
A notícia espantosa vem do Estadão:
Transferência de padre negro causa revolta em Adamantina
CHICO SIQUEIRA
O
padre e o bispo confirmam que o preconceito racial é uma das causadas
da rejeição. Na cidade, fiéis afirmam que ele desagradou grupo
tradicional ao atrair para a igreja pobres e usuários de drogas
ADAMANTINA
- A transferência de um padre negro revoltou moradores da pequena
Adamantina, cidade de 35 mil habitantes, no interior de São Paulo. A
decisão do bispo de Marília, Dom Luiz Antônio Cipolini, de transferir o
padre Wilson Luís Ramos para outro município desencadeou uma onda de
protestos no município e nas redes sociais. Após dar um abraço simbólico
na Igreja Matriz, escrever frases nos vidros dos carros pedindo a
manutenção do padre e iniciar um abaixo-assinado para coletar 20 mil
assinaturas, os católicos prometem novos protestos. O movimento ganhou
até a adesão da Igreja Evangélica, cujos pastores condenaram a situação e
declararam publicamente apoio ao padre.
O
preconceito racial é apontado pelo padre e pelo próprio bispo como uma
das causas da rejeição dos fiéis a Ramos. "Outro dia surpreendi duas
senhoras dizendo que deveriam trocar o galo que há no topo da igreja por
um urubu. Foi muita humilhação", contou o padre, que está em Adamantina
desde 2012.
Dom
Luiz, que está há um ano na região, confirma o preconceito racial
sofrido pelo padre, mas afirma que a principal causa para a
transferência é a divisão que Ramos teria causado na paróquia. "O padre
Wilson tem sofrido com essa questão. Houve preconceito por parte de
fiéis, mas o padre foi vencendo e o que está em jogo agora não é o
preconceito, mas sim a divisão que ele causou na paróquia", afirmou o
bispo.
A
permanência de Ramos na Paróquia Santo Antônio de Pádua, a principal de
Adamantina, foi colocada em dúvida por um grupo de fiéis tradicionais
que enviou cartas ao bispo reclamando do "jeito" simples do padre e,
principalmente, do fato de ele atrair pessoas pobres e jovens usuários
de drogas para a igreja.
A
situação se agravou quando Ramos destituiu fiéis desse grupo que
ocupavam cargos de coordenação de pastorais havia 13 anos e colocou nos
postos pessoas com menos poder aquisitivo.
Recusa.
Ao receber reclamações de fiéis, o bispo chegou a pedir que Ramos
saísse da paróquia, o que foi recusado. "Diante da insistência dele,
acionei o conselho de presbíteros, que foi à cidade fazer uma consulta à
população. Depois disso o próprio padre pediu para ser transferido",
contou Dom Luiz. "Constatamos que havia uma divisão na paróquia, e não
podemos conviver com isso", afirmou.
Padre
Ramos afirma que colocou seu cargo à disposição por causa da pressão
sofrida pelo seu superior. "Foi tanta humilhação e sofrimento que não
resisti", afirmou. "Não foi uma decisão espontânea e não há divisão como
o bispo diz. O que há é um pequeno grupo de insatisfeitos, mas eu
sempre defendi o entendimento porque acredito no diálogo", declarou o
padre.
Humildes e excluídos.
Para os jovens, não há dúvidas: o que causou a transferência do padre
foi o preconceito e a abertura que ele deu às classes mais humildes e
aos jovens excluídos. "O problema é que o padre Wilson é negro, anda
pelas ruas com roupas simples e a pé, substituindo um padre branco, que
usava camisas de linho e carro. Padre Wilson vai até as comunidades,
enquanto seu antecessor não saía da igreja. Isso causou um incômodo",
relatou a servidora municipal Ivanete Sylvestrino.
"Trata-se
de um pequeno grupo que está insatisfeito com o padre Wilson e o bispo
está dando voz a essas pessoas. E, pior, ele (o bispo) está deixando de
ouvir toda uma população", afirmou. "Tanto que, durante a consulta feita
pelo bispado, a maioria votou pela permanência dele (do padre) na
cidade. Cerca de 700 cartas, pedindo a manutenção do padre, foram
enviadas ao bispado", afirmou Ivanete. "Se o bispo levar isso em
consideração, ele saberá que a maioria quer que o padre continue na
cidade; a não ser que haja outros motivos por trás disso."
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