Os estagiários da redação criaram um Valdemiro anglicano só para tirar uma onda com o amadão Marcelo Lemos. |
Marcelo Lemos
Perguntaram-me o motivo de não ter escrito nada a respeito da briga Macedo X Valdemiro. Até agora. A resposta rápida é que não sinto qualquer ligação com essas pessoas, e depois que me ‘anglicanizei’, aqueles que me cercam raramente lançam mão do termo ‘evangélico’ ao comentarem ou questionarem minha fé Cristã. Há aspectos bons e aspectos negativos neste fato. Volto à questão da briga entre os dois gigantes neopentecostais mais adiante.
Um dos aspectos positivos é que não preciso, a cada novo escândalo, ficar listando as diferenças entre os ‘evangélicos’ de lá e os ‘evangélicos’ de cá. Evangélicos brigando? Pastores ou políticos evangélicos envolvidos em corrupção? Ora, que eu tenho haver com isso? Nada! Deixei o sistema, no máximo, sou um visitante ocasional.
Um aspecto ainda melhor é a abertura inusitada para um novo tipo de evangelismo, mais relacional. No sistema evangélico consagrado no Brasil, evangelizar é algo meio impositivo, quase inquisidor e invasivo. Fora do sistema, precisamos de uma nova metodologia, baseada em relacionamento.
Posso citar uma terceira vantagem. Deixar o sistema evangélico é abandonar uma pesada bagagem de neuroses. É contraditório, mas a Igreja ‘Evangélica’ tem conseguido a façanha de infantilizar as pessoas. Se você acha que seu filho é mimado, ainda não conheceu um evangélico típico (evidentemente estou generalizando, e desculpo-me com aqueles que não se encaixam no perfil). O ‘evangélico’ de hoje pode tudo, quer tudo, acha ter direito a tudo, e sempre do bom e do melhor. Ele não pede, determina. Ele não ora, profetiza. Além disso, está convencido de que não pode ficar doente, desempregado, e que sua vida emocional será resolvida com a chegada da “minha Rebeca” – ou do “meu Isaque”. A lista é bem mais longa, mas quero poupar o leitor e meu teclado.
Os Puritanos podem ensinar muito a essa gente. O Evangelho que abraçavam enfatizava a completa Soberania de Deus, e colocavam o homem diante da presença inevitável da Eternidade. O ‘evangelho’ aguado de nossos dias tem tornado o homem a medida de todas as coisas, e pregado os bens materiais com o fim último da existência. Os Puritanos estavam prontos para a fome, a peste, o desprezo e o martírio por amor a Cristo. Os ‘evangélicos’ de hoje estão prontos a mudarem de Igreja, pastor e levita caso as promessas pareçam melhores.
Não vou me esquivar de comentar os aspectos negativos dessa “saída”. O problema mais óbvio é que as pessoas – ou muitas delas – entendem essa ‘saída’ como sendo um abandono da fé Evangélica. Isso é muito decepcionante, mas creio que tentar enfiar os fatos na cabeça das pessoas não resolve a questão; muito melhor é investir em algo que já comentei: relacionamento.
Outro problema é o risco do orgulho pessoal. Tenho visto muito disso na Internet. Há uma multidão de orgulhosos sem Igreja, sem pastor, sem isso e sem aquilo. Talvez estejam também sem o Evangelho. Espero - de coração - estar exagerando. Deixar um sistema ultrapassado, que perdeu o foco e a pureza original, não é o mesmo que deixar a Igreja. Esquecer-se disso só faz nascer um novo gueto religioso a cada dia, a cada esquina. Por isso, várias vezes falo sobre a catolicidade da fé cristã. E deixar o ‘sistema’ evangélico, além daquilo que já mencionamos, é poder abrir-se sem medo a essa universalidade da Igreja, sem sectarismos que não sejam absolutamente justificados. Reformar não é destruir, mas consertar aquilo que o tempo ou a negligencia deterioraram.
Mas, e quanto à guerra entre os dois gigantes neopentecostais? Não vou sequer comentar a corrupção teológica e financeira dos dois lados, pois isto é fato bem conhecido por todos. Divirto-me assistindo a briga dos dois. É algo que, sob certos aspectos, pode ser extremamente positivo, ainda que em curto prazo possa manchar a imagem da verdadeira Igreja. Apesar desse ‘porém’, Cristo ensinou que “é mister que venham os escândalos” (S. Mateus 18.7). “Ai daquele homem por quem vem o escândalo”, complementa Cristo. Este é um duro alerta para Macedo e seu ex-discípulo, e também para cada um de nós.
Marcelo Lemos, do Olhar Reformado
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