Atanásio, patriarca de Alexandria entre os anos 328 e 373 da era cristã, costumava escrever suas "cartas festivas" por ocasião da Páscoa. Eram tão importantes para o cristianismo primitivo que - só para citar um exemplo - na de nº 39 ele listou os 27 livros que considerava divinamente inspirados para a formação do cânon do Novo Testamento, e a sua opinião foi decisiva, prezada que era a sua autoridade espiritual. Abaixo, segue o trecho final da primeira delas - escrita no ano 329 - que continua atualíssima e pode ser lida na íntegra no e-cristianismo, traduzida que foi pelo Gustavo, co-editor deste blog:
9. Desde então nós passamos por aquele tempo de sombras e não mais executamos seus ritos, mas nos voltamos, por assim dizer, ao Senhor, “Pois o Senhor é o Espírito, e onde o Espírito do Senhor está, há liberdade” – como nós ouvimos a sagrada trombeta, não mais matando um cordeiro material, mas aquele verdadeiro Cordeiro foi morto, o nosso próprio Senhor Jesus Cristo, “Que foi levado como um cordeiro ao matadouro e foi mudo como um cordeiro diante de seus tosquiadores”, sendo purificado pelo Seu precioso sangue, que fala coisas mais excelentes que aquele de Abel, tendo nossos pés calçados com a preparação do Evangelho, segurando em nossas mãos o bastão e o cajado do Senhor, pelo qual aquele santo foi confortado, aquele que diz “Teu bastão e Teu cajado me confortam” e para resumir, sendo em todos os respeitos preparados e sem cuidado por nada, como o abençoado Paulo disse, “O Senhor está aí”. E como nosso Salvador disse, “Em uma hora que não pensamos, o Senhor virá – Observemos a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e pecaminosidade, mas com o pão ázimo da sinceridade e verdade. Despindo do velho homem e seus atos, revistamos do novo homem, que é criado em Deus”, em humildade de mente e uma consciência pura, em meditação na lei de dia e de noite. E jogando fora toda a hipocrisia e fraude, afastando de nós todo orgulho e engano, nos tomemos de amor a Deus e a nosso próximo, para que sendo novas [criaturas] e recebendo o novo vinho, que é o Espírito Santo, nós possamos apropriadamente observar a festa, que é o mês destes novos [frutos].
10. Nós começamos o santo jejum no quinto dia de Pharmuthi (31 de Março) e adicionando a ele de acordo com o número aqueles seis santos e grandiosos dias, que são o símbolo da criação deste mundo, que descansemos e paremos (de jejuar) no décimo dia do mesmo Pharmuthi (5 de Abril), no santo sabbath da semana. E quando o primeiro dia da semana santa raiar e se levantar sobre nós, no décimo primeiro dia do mesmo mês (6 de Abril), de onde novamente contamos todas a sete semanas uma por uma, para observarmos a festa do santo dia de Pentecostes – naquele que era uma vez para os judeus, tipicamente, a festa das semanas, onde eles concediam perdão e liquidação de dívidas. E de fato aquele dia foi de libertação em todos os respeitos. Observemos a festa no primeiro dia da grandiosa semana, como um símbolo do mundo que virá, que recebemos promessas aqui onde teremos vida eterna. Então, tendo passado por isto, nós observaremos uma festa perfeita com Cristo, enquanto nós clamamos e dizemos, como os santos, “Eu passarei para o lugar do maravilhoso tabernáculo, para a casa de Deus, com a voz de alegria e gratidão, o grito daqueles que se rejubilam”, de onde dor, sofrimento e gemido fugiram e sobre nossas cabeças alegria e felicidade virão para nós! Que sejamos considerados dignos de compartilhar estas coisas.
11. Que nos lembremos do pobre e não esqueçamos de ser gentis aos forasteiros. Sobre tudo, que amemos Deus com toda nossa alma, poder e forças e amemos nosso próximo como a nós mesmos. Assim poderemos receber aquelas coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram e que não entraram no coração do homem, que Deus preparou para aqueles que O amam, através de seu único Filho, nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, através de Quem, para o Pai somente, pelo Espírito Santo, seja glória e domínio para sempre.
Amém.
Saúdem uns aos outros com um beijo. Todos os irmãos que estão comigo vos saúdam.
de O contorno da sombra
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