Sérgio Magalhães
O general Geisel,
respondendo a uma pergunta sobre a sua iniciativa de fusão dos estados
da Guanabara e do Rio de Janeiro, foi claro: “Reclamam de eu não ter
feito um plebiscito. Ia ser dispendioso — e eu não pretendia mudar minha
decisão.”
Nesse depoimento prestado em 1994 a Maria Celina
D’Araújo e Celso Castro, pesquisadores do CPDOC da FGV, o ex-presidente
não titubeou em reafirmar a potência discricionária de sua sentença.
Simples assim: tinha decidido, não havia por que submeter sua decisão à
população.
Mudou muito o país. Foi-se a ditadura, seis eleições
decorreram da edição da Constituição, a economia entrou nos eixos, a
população urbana triplicou. Contudo, as decisões referentes às cidades
parecem obedecer a uma metodologia ainda daqueles tempos do general.
Ernesto Geisel, ex presidente do Brasil (1974 - 1979)
Investimentos
importantes, de largas consequências para as cidades e os cidadãos, são
gestados em gabinetes e impostos como fato consumado. Não se compõem em
um quadro de planejamento. Logo, não explicitam critérios, tampouco
alternativas; não traduzem prioridades nem se dá transparência às
escolhas. São instrumentos de realimentação do poder.
Sem
planejamento, também os projetos são frutos discricionários de
“oportunidades”, sejam elas reais ou fictícias, públicas ou privadas.
Assim
se faz Brasil afora, agora apoiado em lei que permite licitar obra a
partir do anteprojeto (ou seja, sem definições adequadas), o que
implica, por óbvio, em multiplicar os custos e dividir a qualidade. A
justificativa é poder atender os cronogramas exigidos pela Copa, mas a
medida se aplica a qualquer obra pública.
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