Cláudia da Silva Ferreira foi baleada no Morro da Congonha, em Madureira.
Policiais a colocaram no porta-malas da viatura para levá-la ao hospital.
Os três policiais militares que socorreram Cláudia da Silva Ferreira,
de 38 anos, no Morro da Congonha, em Madureira, no Subúrbio do Rio,
estão presos, como mostrou o Bom Dia Rio nesta segunda-feira (17). A
auxiliar de serviços gerais morreu depois de ser atingida por bala
perdida durante operação policial de combate ao tráfico de drogas na
região, no domingo (16). Testemunhas contaram que Cláudia foi colocada
no porta-malas do carro da polícia para ser levada ao hospital. No
entanto, durante o trajeto, o porta-malas abriu e a auxiliar de serviços
caiu, sendo arrastada pela rua. A PM abriu inquérito para investigar os
fatos e informou que os policiais estavam sendo ouvidos durante a manhã
desta segunda-feira na Delegacia de Polícia Judiciária e depois serão
encaminhados ao Batalhão Especial Prisional da PM (BEP).
Ainda segundo a PM, eles poderão autuados no artigo 324 do código penal
militar, que trata de transgressão de disciplina. No caso deles, a pena
pode se aplicar pela forma como eles socorreram a vítima.
O jornal Extra publicou nesta segunda o vídeo feito por um cinegrafista amador que mostra a mulher sendo arrastada por cerca de 250 metros. Cláudia da Silva Ferreira teria ficado pendurada no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa.
“Minha filha contou que ela ia comprar R$ 3 de pão e R$ 3 de mortadela,
mas não deu tempo de chegar”, disse o marido de Cláudia, que preferiu
não ser identificado por questões de segurança.
Velório de Cláudia da Silva Ferreira no
Cemitério de Irajá, no Subúrbio do Rio
(Foto: Mariucha Machado/G1)
Cemitério de Irajá, no Subúrbio do Rio
(Foto: Mariucha Machado/G1)
Cláudia era mãe de quatro filhos e criava quatro sobrinhos. O velório
está sendo realizado nesta segunda-feira no Cemitério de Irajá, no
Subúrbio. O enterro está previsto para as 13h.
'Interromperam o sonho dela', diz marido
Segundo a PM, os policiais faziam uma operação na comunidade. Houve troca de tiros com traficantes e a auxiliar de serviços gerais foi baleada. Logo depois, os moradores revoltados protestaram contra a ação da polícia. Dois ônibus foram queimados.
Segundo a PM, os policiais faziam uma operação na comunidade. Houve troca de tiros com traficantes e a auxiliar de serviços gerais foi baleada. Logo depois, os moradores revoltados protestaram contra a ação da polícia. Dois ônibus foram queimados.
Eles bloquearam a Avenida Ministro Edgar Romero, uma das principais de
Madureira. Segundo os moradores, Cláudia foi baleada no peito e na
cabeça pelos policiais do 9º BPM, que subiram o morro atirando.
“Os policiais chegaram de manhã já atirando nem mandou nada. Chegaram
atirando e os tiros caíram todos em cima dela. As pessoas gritaram: é
mulher, trabalhadora, moradora e eles continuaram atirando”, afirmou uma
moradora.
Amigos de Cláudia reclamaram que os PMs demoraram a socorrê-la. Para
eles, a vítima não foi socorrida imediatamente após ser atingida. O
socorro só teria sido prestado depois que um traficante foi alvejado.
“Ela não estava com a perna ferida quando ela foi colocada no carro da
PM, mas, quando chegou ao hospital, ela estava com a perna direita em
carne viva. A gente entende que ela foi arrastada em algum lugar, que
não foi lá, que não tem marca de sangue pelo chão. Mas a perna dela está
na carne viva. Não deixaram que ninguém acompanhasse, muito mal
informaram para onde estava levando ela”, disse um amigo da vítima.
Desolado, o marido de Cláudia lamentou o fato de a mulher não ter
conseguido realizar seus sonhos. “Extrovertida, guerreira para caramba,
determinada no que queria. Infelizmente, o sonho dela não vai poder ser
realizado agora. Íamos tentar. Eu vou fazer isso, modificar a casa para
ela, que ela não conseguiu. Não que ela não conseguiu, interromperam o
sonho dela”, afirmou.
Resposta da PM
Em nota, a PM disse que Cláudia da Silva Ferreira foi colocada no porta-malas do carro e no caminho do hospital a porta se abriu. Foi nesse momento que parte do corpo da moradora acabou sendo arrastado pela rua, provocando mais ferimentos. O comando da PM afirmou que este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação que é a preservação da vida e da dignidade humana.
Em nota, a PM disse que Cláudia da Silva Ferreira foi colocada no porta-malas do carro e no caminho do hospital a porta se abriu. Foi nesse momento que parte do corpo da moradora acabou sendo arrastado pela rua, provocando mais ferimentos. O comando da PM afirmou que este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação que é a preservação da vida e da dignidade humana.
A Polícia Militar informou ainda que os policiais encontraram Cláudia
já baleada no alto do morro. Ela ainda foi levada para o Hospital
Estadual Carlos Chagas, mas não resistiu.
Segundo a PM, na operação em Madureira, um traficante foi morto e outro
foi ferido e preso. Os policiais apreenderam quatro pistolas, rádios e
drogas na comunidade. A Polícia Civil vai investigar de onde partiram os
tiros.
Para a família, a dor se mistura à indignação. “A sensação é que no
morro, na favela, só mora bandido, marginal. Inseguança, somos tratados
como animais”, diz um amigo de Cláudia.
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