1-Relação entre depressão e suicídio X Culpa Espiritual e Crise de Fé
Assim surge a indagação: como ocorre uma situação com uma pessoa crente pentecostal com responsabilidades na Congregação? Do ponto teológico, as Escrituras Sagradas trazem relatos de homens e mulheres da fé com depressão e o tratamento que passaram como: (Moises, Elias, Noemi, Saul, Davi, Jó, Jeremias, Jonas, Judas Iscariotes,...). com o suicídio ou desejo da morte, andando próximo da depressão. Nenhum cristão está imune a tal situação. Depressão é uma doença, e o nosso corpo está sujeito a doenças físicas e também mentais.
Jesus vai dizer que no mundo nós teríamos aflições este em forma de cansaço espiritual, físico e mental. Dessa forma, a depressão atinge a pessoa quando a mesma está sofrendo. Por ser um doença patológica, precisa ser tratada como qualquer outra. Ser cristão não quer dizer ser imune, é preciso saber separar isso, mesmo com a fé desempenhando um papel central na sua vida, mas com a pressão muitas das vezes sem ser suportada, por conta de outros fatores. No entanto, a depressão muitas vezes também distorce a percepção de si mesma e de sua relação com Deus. Assim acabam pensando que morrer é a única saída possível para os problemas que enfrentam. A pessoa pode estar sentindo:
- Culpa por não ser "forte o suficiente" espiritualmente: A depressão pode ser erroneamente interpretada como uma fraqueza de fé, ou até mesmo como uma punição divina. Ela pode pensar: "Se eu fosse mais fiel, Deus me ajudaria", ou "Por que Deus me abandonou se eu sirvo a Ele?"
- Vergonha por não corresponder às expectativas da igreja: A comunidade pentecostal valoriza muito a vitória espiritual, e ela pode sentir que sua luta interna a torna uma pessoa "menos crente". Isso pode levá-la a se esconder ou isolar ainda mais.
- Medo de condenação eterna: O suicídio é visto como um pecado grave. Ela pode estar lutando com o pensamento de que Deus não a perdoará.
2. Pressões Financeiras e Conflitos Práticos
A situação só piora quando há o envolvimento ainda mais perigoso, com busca por empréstimo a juros exorbitantes e com ameaças, pode ser resultado de um desespero financeiro. Talvez tenha recorrido por falta de outras opções, daí a pessoa se vê presa em um ciclo de medo e angústia:
- Medo constante de represálias: A pressão de um agiota pode ser devastadora, com ameaças diretas ou indiretas que aumentam seu estresse e sensação de impotência.
- Vergonha de admitir a situação: Por ser uma pessoa taxada de ter fé, há o medo ou vergonha de pedir ajuda, temendo o julgamento da congregação ou o rótulo de irresponsável.
- Sentimento de desamparo: As dívidas podem parecer uma prisão sem saída, especialmente quando combinadas com a depressão, que distorce sua capacidade de ver soluções. Isto tudo pode acontecer com qualquer mortal.
3. Solidão e Invisibilidade
Apesar de estar cercada por irmãos na fé, a pessoa pode se sentir terrivelmente só:
- Falta de compreensão sobre sua dor: Muitas vezes, há falta de entendimento sobre saúde mental nas congregações. Associa tudo a falta de fé ou demônio. Vindo a ouvir repetidas frases como "É só orar mais", ou "Você precisa ter mais fé". Sem a menor empatia com a dor e só faz aumentar o isolamento.
- Medo de ser julgada: A depressão e o suicídio ainda carregam estigmas, e ela pode temer ser vista como uma "vergonha" para a congregação ou sua família.
- Falta de espaço seguro para expor seus sentimentos: Se ela acredita que não pode compartilhar sua angústia sem ser julgada, ela se fecha ainda mais.
4. Desespero e Ideação Suicida
O templo, que deveria ser um lugar de conforto e refúgio, pode ter se tornado o local onde se sente o peso máximo de sua dor. Suas motivações podem incluir:
- Desejo de "se livrar da dor": A depressão faz acreditar que o sofrimento nunca terá fim. O suicídio pode parecer, a única forma de escapar.
- Conflito entre a fé e a desesperança: a pessoa pode ter orado incansavelmente por alívio e, ao não sentir mudanças, pode acreditar que Deus não a ouve ou que ela não é digna de ajuda.
- Escolha do templo como local: Isso pode ter um significado simbólico. Talvez a pessoa veja o templo como um lugar onde pode "se despedir" de Deus ou buscar perdão no último momento?! Ou, de forma trágica, pode-se estar tentando expressar sua dor de uma maneira que chame a atenção da congregação, ou dos que não entenderam ou foram causadores do sofrimento.
5. O Grito de Ajuda Não Ouvido
Por trás de suas ações, pode haver um grito silencioso por socorro que passou despercebido:
- Sinais ignorados: Pode ter demonstrado sinais de depressão, como isolamento, mudanças de humor ou comentários sobre cansaço e desesperança, mas que foram subestimados ou mal interpretados.
- Falta de suporte especializado: Talvez nunca tenha tido acesso a ajuda psicológica ou psiquiátrica, seja por falta de recursos financeiros, preconceito contra terapia ou crença de que "só Deus cura".
- Desejo de ser notada: O suicídio no templo pode ser, de forma inconsciente, uma tentativa de mostrar à sua comunidade a profundidade de sua dor.
Em suma a situação reflete o impacto devastador do estigma em torno da saúde mental, combinado com pressões espirituais e práticas. É uma tragédia que poderia ter sido evitada com acolhimento, compreensão e acesso a suporte profissional.
Na mente dessa pessoa, provavelmente havia um turbilhão de vozes conflitantes: a voz da fé, pedindo para resistir; a voz da depressão, sugerindo que não há saída; e a voz do desespero, gritando por ajuda. Seu ato final não é um reflexo só de fraqueza espiritual, mas do peso insuportável que se carregava só.
Isto nos lembra da importância de abordar a saúde mental nas denominações com empatia, quebrando tabus e oferecendo suporte real a quem está sofrendo.
A igreja ou denominação, enquanto comunidade de fé e apoio, tem um papel fundamental na prevenção de situações como essa. Embora seja impossível evitar todos os casos, algumas ações práticas, espirituais e de conscientização podem criar um ambiente mais acolhedor e preventivo.
A. Conscientização sobre Saúde Mental
A denominação pode desempenhar um papel importante ao tratar sobre questões de saúde mental, desmistificando a depressão e o suicídio:
- Ensinar que depressão não é um fracasso espiritual: É essencial que os líderes reforcem que a depressão é uma condição médica e emocional, e não resultado de falta de fé ou pecado.
- Promover palestras e treinamentos: Convidar psicólogos e psiquiatras cristãos (ou de confiança) para falar sobre saúde mental e como identificar sinais de alerta.
- Distribuir materiais informativos: Folhetos, vídeos ou orientações sobre como lidar com a depressão e onde buscar ajuda podem ser disponibilizados.
B. Criar um Espaço Seguro e Acolhedor
Pessoas que enfrentam depressão ou pensamentos suicidas precisam sentir que podem se abrir sem medo de julgamento:
- Treinar líderes para ouvir sem julgar: Pastores, diáconos e líderes devem ser capacitados a ouvir com empatia, sem minimizar a dor ou oferecer respostas simplistas como "basta orar mais".
- Estabelecer grupos de apoio: Pequenos grupos ou ministérios específicos para acolher pessoas em sofrimento emocional podem criar um espaço onde os membros se sintam ouvidos e compreendidos.
- Garantir sigilo: Muitas pessoas evitam se abrir por medo de exposição ou fofoca. A congregação deve garantir que tudo compartilhado será tratado com confidencialidade.
C. Encorajar o Acesso a Tratamento Profissional
A congregação pode desempenhar um papel crucial ao incentivar os membros a buscar ajuda profissional, desmistificando terapias e tratamentos:
A Bíblia contém princípios que orientam sobre a relação entre a saúde, a fé e a medicina, e que podem ser aplicados a qualquer pessoa, independentemente do seu género. Jesus disse que "os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes" (Lucas 5:31). A Bíblia afirma que a saúde faz parte do projeto de Deus, e que o médico deve colocar a sua ciência e habilidade a serviço da cura e da vida. A Bíblia aconselha a honrar o médico, pois ele é necessário e foi criado pelo Altíssimo. A fé funciona como um "elo" entre Deus e o ser humano no processo de tratamento e cura. Jesus reconheceu que as pessoas doentes precisam de médicos, e enalteceu o talento e o serviço desses profissionais.
- Reforçar que fé e tratamento médico caminham juntos: A liderança pode ensinar que buscar ajuda psiquiátrica ou psicológica não significa falta de confiança em Deus, mas sim usar os recursos que Ele disponibilizou. Jesus tinha Lucas (Médico) no Ministério.
- Indicar profissionais confiáveis: A denominação pode criar uma rede de contato com psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais que sejam confiáveis e acessíveis, inclusive com valores sociais para membros em dificuldade financeira.
- Auxiliar financeiramente, quando necessário: Para pessoas com dificuldades econômicas, pode oferecer suporte financeiro ou buscar parcerias com ONGs e serviços de saúde mental gratuitos. Não é vergonhoso e sim essencial.
D. Identificar e Intervir nos Sinais de Alerta
A denominação deve estar atenta aos sinais de que alguém está em sofrimento emocional:
- Observar mudanças de comportamento: Isolamento, desistência de cargos, desânimo constante, ou comentários sobre cansaço e inutilidade são sinais que não devem ser ignorados.
- Perguntar diretamente: Não há problema em perguntar a alguém que demonstra sinais de depressão: "Você está pensando em se machucar ou tirar a própria vida?" Isso não incentiva o suicídio, mas abre espaço para diálogo.
- Oferecer ajuda prática: Muitas vezes, pessoas em sofrimento não sabem como pedir ajuda. Assim pode-se oferecer apoio imediato, como acompanhar a pessoa a um psicólogo ou ajudá-la a resolver questões práticas (como até dívidas).
E. Acolher as Lutas Financeiras com Empatia
No caso de problemas financeiros e de envolvimento com agiota - oferecer ajuda ao criar um ambiente onde os membros sintam-se a vontade e que podem pedir ajuda desde:
- Educação financeira: Oferecer cursos ou palestras sobre planejamento financeiro pode prevenir situações de endividamento extremo.
- Fundo de emergência: Criar um fundo para socorrer membros em dificuldades financeiras extremas, com critérios claros e justos.
- Intermediação com credores: Em casos de dívidas graves, poder ajudar a buscar soluções, como renegociação, antes que a pessoa recorra a um agiota.
F. Fortalecer os Laços de Comunidade
A solidão e o isolamento são fatores que agravam a depressão. A denominação pode combater isso ao cultivar uma comunidade mais próxima:
- Manter contato com membros ausentes: Se alguém começa a faltar aos cultos ou atividades, líderes podem entrar em contato para saber como a pessoa está.
- Fomentar relacionamentos autênticos: Incentivar os membros a se preocuparem uns com os outros de maneira genuína, criando uma rede de apoio natural.
- Valorizar a transparência emocional: A liderança pode dar o exemplo ao compartilhar, com humildade, suas próprias lutas, mostrando que é normal precisar de ajuda.
G. Orar e Agir
Embora a oração seja fundamental na fé cristã, é importante que ela venha acompanhada de ações práticas:
- Ministérios de intercessão bem direcionados: Grupos de oração podem orar especificamente por membros que estão enfrentando desafios emocionais e financeiros.
- Ação direta após a oração: A igreja pode se mobilizar para atender às necessidades práticas da pessoa, como visitas, ajuda financeira ou encaminhamento para tratamento. Afinal, fé sem obras é morta.
H. Combater o Estigma em Torno do Suicídio
O suicídio ainda é um tabu em muitos locais e nas denominações ainda maior, mas falar sobre isso abertamente pode salvar vidas:
- Promover conversas francas sobre o tema: Pastores podem abordar o assunto em sermões ou estudos bíblicos, mostrando que a igreja é um lugar para acolher quem está em sofrimento.
- Ensinar sobre o amor e a graça de Deus: Muitas pessoas que pensam em suicídio têm medo da condenação divina. Mostrar que Deus é misericordioso e deseja curar, não punir, pode ser libertador.
Enfim a Congregação tem o potencial de ser um lugar de cura e restauração, mas isso exige esforço consciente para ouvir, acolher e agir de forma empática. No caso dessa pessoa em estudo, talvez o desfecho pudesse ter sido diferente se ela se sentisse segurança para compartilhar sua dor, se houvesse menos julgamento e mais suporte prático.
A mensagem central de Jesus sempre foi de amor, cuidado e compaixão—e é exatamente isso que pessoas em sofrimento precisam. A congregação pode ser uma ponte para a vida quando se torna um refúgio de graça e suporte, tanto espiritual quanto emocional.
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