Atores da região fazem manifestação, nesta terça-feira, para protestar contra a ocupação e falta de manutenção do teatro. “Isso aqui é assim desde sempre. Não muda nada, não”. As palavras são de Reginaldo José da Silva, há 18 anos zelador do Cine Teatro Paulo Freire, no centro de Paulista, Região Metropolitana do Recife. Em conversa de menos de um minuto, ele revela a falta de novidade no estado de conservação do único espaço para artes cênicas do município com mais de 300 mil habitantes. O patrimônio público está em condições precárias, com teto descascado, cortinas velhas e remendadas, cadeiras desconfortáveis, banheiros quebrados.

Se a piora da infraestrutura é uma
antiga conhecida do zelador, recentemente ele testemunhou o que parecia
improvável – o lugar onde “nada muda” encolheu. Pilhas de tijolos e
vários sacos de cimento isolaram rapidamente três salas anexas, antes
utilizadas por artistas e estudantes. “Invadiram nosso campo de
trabalho. Esses espaços eram dedicados a música, literatura e ensaios”,
diz Cíntia Oliver, do Movimento de Resistência Cultural de Pernambuco.
Ainda sem
reboco, as paredes recém-levantadas escondem as futuras instalações do
Tribunal Regional Eleitoral (TRE), cuja permanência no local está
prevista por, pelo menos, os próximos 18 anos. Tapumes na fachada do
prédio ocultam a obra, autorizada pela administração de Paulista. Para
protestar contra a ocupação dos bastidores e a falta de manutenção do
teatro, atores da região organizam manifestação nesta terça-feira, a
partir das 9h, na Avenida Floriano Peixoto, uma das principais vias do
centro da cidade.

Único espaço para artes cênicas do município está sem manutenção e com instalações precárias. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
“Há quatro anos, o forro do teto do
palco caiu em cima do elenco na peça Sítio do pica-pau amarelo. Falta o
básico para a gente que é artista e também para os espectadores”, lembra
o ator Vinícius Coutinho. Segundo ele, os próprios atores se mobilizam
para o teatro ter condições mínimas de funcionamento. “A gente precisa
trazer até papel higiênico”, diz.
Os filmes nem chegam a ser exibidos.
Fundado há 69 anos, o Cine Teatro deixou de ser “Cine” há três décadas.
Ninguém sabe sequer informar o paradeiro dos equipamentos de projeção.
Como não há outro cinema na cidade, quem mora em Paulista se contenta em
assistir a filmes em casa ou, eventualmente, no Recife.

Teto da instituição sofre com infiltração frequente. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Segundo documentação apresentada pelos
manifestantes, o Corpo de Bombeiros de Pernambuco atestou várias
irregularidades no teatro, como falta de sinalização de emergência,
portas adequadas, corrimões e ausência de manutenção nos extintores de
incêndio. Já a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária apontou a
ausência de placas no forro do teto, má condição do piso e deficiência
higiênica nos banheiros, entre outras falhas.
Por meio de nota, a Prefeitura de
Paulista afirma que a cessão do espaço para o TRE ocorreu em 2006, na
gestão de Yves Ribeiro (PSB), e, embora o prefeito Júnior Matuto (PSB)
não esteja de acordo, precisa cumprir com o contrato de comodato, sob
pena de sofrer ação de improbidade administrativa. O documento prevê a
utilização das salas até 2031, mas o governante está em busca de terreno
para ceder definitivamente ao TRE e, assim, reaver o acesso ao anexo do
teatro. Quanto às condições precárias de funcionamento, a prefeitura
comunica que está captando recursos para realizar melhorias no local até
o fim do ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário